The Film Handbook#191: Neil Jordan

Neil Jordan - AdoroCinema

Neil Jordan
Nascimento: 25/02/1950, Sligo, Irlanda
Carreira (como diretor): 1982-

Já estabelecido como escritor, Neil Jordan parece ser um dos mais promissores novos talentos britânicos. Apesar de portadores de falhas, seus três primeiros filmes foram agradavelmente difíceis de serem categorizados, mesmo revelando uma sensibilidade distintamente cinemática.

Ambientado em sua Irlanda natal, o filme de estreia de Jordan, Angel - O Anjo da Vingança/Angel foi um suspense impressionante sobre um saxofonista que toca em uma banda e testemunha um assassinato, descobrindo que também possui uma amedrontadora capacidade para a violência. Decepcionantemente realista em seu tom, o filme pode ser observado de forma mais frutífera enquanto fantasia: iniciando e finalizando em um salão de danças chamado Dreamland, a busca do músico por melhorias através de uma série de coincidências é tão improvável quanto frustrante. De longe mais seguro foi Na Companhia dos Lobos/The Company of Wolves>1, uma fantasia sensual e delirante compreendendo contos dentro de contos. Parte alegoria simbólica sobre a descoberta da puberdade (uma garota é tanto fascinada quando amedrontada a respeito dos alertas de adultos sobre homens que se transformam em lobos), parte conto de fadas (as histórias frequentemente ecoam Chapeuzinho Vermelho), parte filme de horror, é memorável não apenas por sua rica invenção narrativa mas igualmente por sua extravagante floresta arcadiana cujas sombras contem uma miríade de criaturas sinistras. Mais impressionante, no entanto, foi sua sutil ambivalência (os lobisomens, ao mesmo tempo perigosos,belos e dignos de comiseração, simbolizam a confusão adolescente sobre o começo da maturidade física) e o fato que o filme, apesar de ambientado em uma lógica onírica, permanece lúcido do início ao final.

Em Mona Lisa>2, Bob Hoskin consegue uma de suas interpretações mais tocantes até o momento, enquanto um ex-condenado que,  chofer de uma prostituta negra de luxo, vai do preconceito racial  até uma absurda obsessão romântica pela garota; como resultado,  desce a um submundo chocante de cinemas pornográficos e salões de sexo a procura da viciada amante lésbica da garota. Ocasionalmente violento, o filme, não obstante, diverge claramente do sensacionalismo e constrói, ao contrário, uma variação contemporânea de inflexão noir sobre o tema da Bela e da Fera: o realismo sofre mais uma vez o contraponto de frequentes alusões aos surreais crimes ficcionais de John Franklin Bardin, e uma evocação expressionista das áreas de prostituição londrinas; existem, igualmente, uma abundância de referências que reforçam o tema da inocência e da obsessão - variando estes da canção do título, através de uma ária de Madame Butterfly de Puccini à uma cena de Amarga Esperança, de Nicholas Ray. O sucesso do filme levou-o a Com Fantasmas Não se Brinca/High Sprits, uma comédia sobrenatural demasiado direcionada ao mercado internacional, no qual as interpretações freneticamente farsescas simplesmente revelaram o pobre senso de ritmo para comédia do diretor.

A ênfase de Jordan nos prazeres visuais e sua tendência rumo à fantasia mais que ao realismo, marcam-no como um talento a ser observado. Se frequentemente ele sinaliza temas sem muito rodeios, ao invés de deixá-los emergir naturalmente da narrativa, permanece criativo e ambicioso.

Cronologia
Powell, Boorman (que produziu Angel), Laughton  e Cocteau podem ser observados como tendo influenciado os filmes de Jordan, enquanto figuras literárias, especialmente seus colaboradores Angela Carter (A Companhia dos Lobos) e David Leland (Mona Lisa) são também significativas. Seu desprezo pelo realismo pode ser comparado ao de contemporâneos como Julien Temple, Jarman e Stephen Frears.

Destaques
1. A Companhia dos Lobos, Reino Unido, 1984 c/Sarah Patterson, Angela Lansbury, David Warner

2. Mona Lisa, Reino Unido, 1986 c/Bob Hoskins, Cathy Tyson, Michael Caine

Fonte: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 142-3.

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