Filme do Dia: Hamlet: Vingança e Tragédia (2000), Michael Almeyreda



Hamlet: Vingança e Tragédia (Hamlet, EUA, 2000). Direção e Rot. Adaptado: Michael Almeyreda. Fotografia: John de Borman. Música: Carter Burwell. Montagem: Kristina Boden. Dir. de arte: Gideon Ponte & Jeanne Develle. Cenografia: Joshua Drew & Jeff Everett. Figurinos: Marco Cattoretti & Luca Mosca. Com: Ethan Hawke, Kyle MacLachlan, Sam Shepard, Diane Venora, Bill Murray, Liev Schreiber, Julia Stiles, Steve Zahn, Dechen Thurman, Rome Neal, Casey Affleck.
        Nova York, 2000. Hamlet é surpreendido, recém-saído da universidade, com a súbita morte do pai, então comandante supremo da corporação multinacional Dinamarca. Menos de dois meses após a morte desse, sua mãe, Gertrude (Venora) volta a casar-se com o irmão do falecido, Claudius (MacLachlan), que agora comanda a corporação. Injuriado com a situação, Hamlet é alertado pelo amigo Horatio (Geary), sobre a aparição de um espectro (Shepard) de seu pai. O espectro surge para Hamlet e clama vingança de seu assassinato. Hamlet apaixona-se por Ophelia (Stiles), filha de Polonius (Murray), mal sabendo que o mesmo é cúmplice de sua mãe. Hamlet produz um filme que desmascara a traição. Acidentalmente mata Polonius, no quarto da mãe. Claudius maquina para que o filho de Polonius, Laertes (Schreiber), busque a vingança pela morte do pai. Hamlet vai para à Inglaterra. Ophelia enlouquece e suicida-se. No seu enterro, Laertes marca um duelo  com Hamlet. Ao final do duelo, Laertes é morto e Hamlet, mesmo mortalmente ferido, ainda consegue matar Claudius, que acabara de envenenar a esposa. Assume ao trono da corporação, Fortinbras (Affleck).
O recurso de deslocar para o mundo contemporâneo a narrativa, ao mesmo tempo mantendo os diálogos clássicos, sem a menor preocupação realista, soa interessante, mas o resultado final é desastroso. Sem o mesmo talento visual de outro filme que realizou uma adaptação semelhante (o Romeu + Julieta, de Luhrman), inclusive com a mesma fixação pela imagem e tiques pós-modernos, uma constelação de eventos contribui para o fracasso, sendo o principal deles o baixo nível de interpretação do elenco. Sem o apoio do realismo (já que o cineasta, ao contrário de Luhrman, fincou pé em não adaptar as situações para os dias correntes) e com interpretações indefensáveis, restaram somente o brilho do texto sheakespeariano, que perde todo e qualquer impacto, arrastando-se em monólogos cansativos e momentos francamente inverossímeis, como o do conflito entre Hamlet (toscamente vivido por Hawke) e sua mãe. Ao apelar para o universo onipresente das imagens do mundo contemporâneo (coisa que, aliás, Luhrman já o fizera com melhor resultado), através de computadores portáteis, câmeras de circuito interno e vídeos, o filme também não consegue ir além da superfície (como, por exemplo, na pálida reprodução do recurso do noticiário de televisão de Romeu + Julieta) e pretensiosidade. O mesmo pode-se dizer do tom de crítica social às tendências globalizantes da economia que são esboçadas nas entrelinhas (seja nas imagens de protesto que Hamlet observa na telinha ou na própria transformação de um Estado-Nação em uma corporação). Mais de sessenta versões da clássica obra de Shakespeare foram realizadas até hoje para o cinema, sendo as de Laurence Olivier (1948) –  que o filme, inclusive, faz referência - e Kenneth Branagh (1997), algumas das mais célebres. Double A Films/Miramax. 112 minutos.

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