Filme do Dia: Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (2018), Renée Nader Messora & João Salaviza


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Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (Brasil/Portugal, 2018). Direção e Rot. Original: Renée Nader Messora & João Salaviza. Fotografia: Renée Nader. Montagem: Ricardo Alves Jr., Thiago Macêdo Correia, José Edgar Feldman, René Nader Messora & João Salaviza. Com: Henrique Ihjãc Krahô, Raene Kôtô Krahô, Douglas Tiepe Krahô, Iasmin Krapej Krahô, Osmar Kwycaké Krahô.
Ihjãc (Ihjãc Krahô) é um jovem índio atormentado pelo recente falecimento do pai e pela pressão do grupo em que vive para que assuma o seu papel como pajé. Ele possui um filho pequeno com Kôtô (Kôtô Krahô). Por um tempo ele tenta a sorte em uma cidade, vagando por estradas e entidades assistenciais, antes de retornar e enfrentar a festa solene em que toda a comunidade se despede do espírito de seu pai. Após o ritual, no entanto, confidencia à Kôtô que ainda segue pensando no pai.
Fazendo emergir a dimensão ficcional dos próprios atores naturais envolvidos, a dupla de realizadores consegue uma proeza não pequena de espelhar uma subjetividade indígena como que de dentro, e falando em sua própria língua. Ao mesmo tempo, e infelizmente, o filme parece se condoer de se tornar refém da própria divisão apresentada em seu protagonista, entre o mítico universo ao qual originalmente pertence e a civilização branca, assistencial apenas na medida e tempo de validade deles. E o filme se sai nitidamente melhor na dimensão mítica, ilustrando-a com imagens de beleza e duração que conseguem traduzir o mesmo sem a necessidade de efeitos, ficando restrito a um único momento em que se faz uso de uma elaboração visual que busca representar a magia, quando Ihjãc joga o que se transformará em uma bola de fogo no lago encantado pelo espírito resiliente de seu pai. Sua passagem pela cidade soa mais esquemática e previsível, além de truncada – provavelmente sem a redoma da própria cultura Krahô, os realizadores tenham encontrado dificuldade em elaborar sua delicada teia dramatúrgica, a contar com a nada fácil colaboração de pessoas a vivenciarem a si próprias. Seu final tampouco deixa de buscar um efeito relativamente fácil.  O mal sentido por Ihjãc e que não o abandona do início ao final, não parece se resolver no mundo dos brancos, mas tampouco no que lhe é de origem. Como que presa desse entre-lugares e não mais se sentido pertencendo inteiramente a um ou outro, ao contrário do observado em seus semelhantes, Ihjãc poderia ser uma alegoria para o etnocídio que faz menção o contemporâneo Ex-Pajé. Como esse, e ainda bem mais até, sua investidura ficcional sobre o real é grande e também se observa no plano das imagens, ainda que sem o mesmo rigor proposto por aquele. Entrefilmes/Karõ Filmes/Material Bruto. 114 minutos.

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