Filme do Dia: Garotas Modernas (1928), Harry Beaumont
Garotas Modernas (Our Dancing
Daughters, EUA, 1928). Direção: Harry Beaumont. Rot. Original: Josephine
Lovett. Fotografia: George Barnes. Montagem: William Hamilton & Margaret
Booth. Dir. de arte: Cedric Gibbons. Figurinos: David Cox. Com: Joan Crawford,
Johnny Mack Brown, Anita Page, Dorothy Sebastian, Nils Ashter, Edward J.Nugent,
Kathlyn Williams, Dorothy Cumming, Huntley Gordon.
Diana Medford (Crawford), leva uma vida hedonista
e despreocupada, como a de seus amigos, até conhecer numa festa Ben Blaine
(Brown), por quem se apaixona perdidamente. Ben é também motivo de disputa de
Ann (Page), pois sua mãe lhe alertou sobre a fortuna do mesmo. Diana tem como
sua melhor amiga, Beatrice (Sebastian), que casa com Norman (Ashter), mesmo
esse sabendo que ela não é mais virgem. Ben, apaixonado por Diana,
casa-se com Ann, que mantém um relacionamento amoroso com Freddie (Nugent).
Inconformado com a postura recorrente da esposa, Ben vai a festa de despedida
de Diana, que se ausentará por um tempo longo do país. Freddie também vai a
festa, porém quem o segue é uma embriagada Ann, que flagra na festa Diana e seu
marido numa situação de relativa proximidade, provocando um escândalo. Na mesma
noite, embriagada, cai das escadarias da residência de Beatrice e Norman, e
morre. Diana retorna dois anos após e se une a Ben.
Tido como o filme que transformou Crawford em
estrela a partir do momento que a teria identificado com a figura prototípica
da flapper moderna, autônoma e
buscando vivenciar todos os prazeres a serem ofertados pela Era do Jazz. Se
sobre a primeira afirmativa não há muito o que negar, a segunda já se torna,
sobretudo numa visada retrospectiva, mais problemática, no sentido que o
vislumbre que se observa de Crawford enquanto “melindrosa”, restringe-se aos
momentos inciais do filme. Desde que apaixonada, ela parece cavar terreno junto
ao espectador que a torna devidamente valorizada diante de sua rival –
iniciando uma série de rivalidades femininas que teriam exemplos célebres ao
longo da carreira da atriz, como Alma em Suplício (1945), Johnny Guitar(1954)
ou O Que Terá Acontecido à Baby Jane?
(1962). Se é verdade que não deixa de haver tiradas espirituosas, em seu
momento inicial, como a sugestão de que Ann faça uso de cocaína, daí o fato de
não beber, também se tira partido meramente voyeurístico das pernas das atrizes
e delas em roupas íntimas, numa evidente aproximação sensacionalista do ambiente
em questão. De fato, esse ambiente
alucinado das festas parece apenas como um distante pano de fundo para uma
paixão romântica bem convencional, algo que sua trilha sonora é, de certa
forma, testemunha, ao preferir modorrentas operetas como a insistentemente
ouvida – trata-se de um filme semi-mudo, já que os diálogos são expressos em
cartelas, e apenas ruídos e canções compõem a banda sonora – I Loved You Then (As I Love You Now) ao
invés dos alucinados charlestons que compunham a trilha sonora das festas
descritas ao início. Se a Diana de Crawford apresenta um comportamento
aparentemente mais libertino que o de sua rival ao início, o jogo de aparências
não evita que, em última instância, tudo siga no seu devido lugar, ou seja, que
o decoro seja preservado na figura da heroína em oposição a uma “falsa
virtuosa”, que tem o previsível fim esperado que aguarda figuras femininas de
fato transgressoras. Preocupação que parece levar até o final da vida sua
melhor amiga, pelo peso de não ter casado mais pura. No frigir dos ovos, o que
as três personagens femininas destacadas buscam é somente a segurança emocional
e/ou financeira do matrimônio sendo, portanto, a figura de Crawford bem menos
interessante que a que vivenciará em O Pecado da Carne (1932), filme sob todos os aspectos mais interessante. A
rivalidade feminina aqui ganhará uma adesão dos próprios planos que fazem
questão de ressaltar de forma ótica o impacto de uma das duas rivais quando
essa se encontra com o homem em disputa. É tido como um dos primeiros exemplos
a explorar uma cenografia maciçamente art
déco, a ser copiado futuramente por cinematografias mundo à fora,
notadamente a italiana. MGM. 85 minutos.
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