Filme do Dia: Madame X (1966), David Lowell Rich
Madame X (EUA, 1966). Direção:
David Lowell Rich. Rot. Adaptado: Jean Holloway, a partir da peça de Alexandre
Brisson. Fotografia: Russell Metty. Música: Frank Skinner. Montagem: Milton
Carruth. Dir. de arte: Alexander Golitzen & George C. Webb. Cenografia:
Howard Bristol & John McCarthy Jr. Figurinos:
Jean Louis. Com: Lana Turner, John Forsythe, Keir Dullea, Ricardo Montalban,
Burguess Meredith, John Van Dreelen, Constance Bennett, Virginia Grey, Warren
Stevens, Teddy Quinn.
Holly Parker (Turner), balconista
casada com o membro da fina flor da sociedade de Connecticut, Clay Anderson
(Forsythe), vive uma vida de casados estável na mansão da ciumenta mãe de Clay,
Estelle (Bennett). Criando um pequeno filho, Clay Jr. (Quinn), Holly se
ressente, no entanto, das longas ausências do marido e sua atribulada carreira
como diplomata que pretende seguir na política. Ela se envolve com o
conquistador Phil Benton (Montalban). Quando o marido retorna e ela se descobre
apaixonada de fato por ele, vai até a casa de Benton, com intenção de romper a
relação, mas na discussão que acabam tendo, Benton cai acidentelmente da escada
e morre. Ao chegar em casa, Estelle, que possui espiões cobrindo a relação, a
chantageia para que suma da vida do filho. É planejado um suposto afogamento de
Holly, sem que o corpo apareça, enquanto Estelle providenciou para que ela vá
morar na Suiça. Lá, deprimida e sem forças para continuar vivendo, ela é
acolhida pelo rico músico Christian Torben (Van Dreelen). Quando a pressão para
casamento se torna mais forte, ela simplesmente abanadona sua casa e parte para
o México, após ter sido assaltada por um homem que conhecera em um bar e levara
para sua casa. No México, conhece o oportunista Dan Sullivan (Meredith), que
sabendo de sua trajetória passada, revelada em meio ao alcoolismo crescente, chantagei-a
após conseguir convencê-la a viajar para Nova York com ele. Ela o mata e é
defendida no júri por ninguém menos que seu filho, Clay (Dullea), iniciando
como advogado, enquanto o marido, atualmente governador do estado, e a sogra
acompanham o julgamento. Tendo-os reconhecido ela prefere não se manifestar
durante o julgamento para não prejudicar o filho e morre pouco antes da sentença
vir a ser deferida.
O que de longe mais chama a
atenção, para além evidentemente de ter sido fotografado e ambientado de forma
muito similar aos melodramas clássicos de Douglas Sirk (nenhuma coincidência,
já que se trata da mesma equipe de produção sob a batuta do mesmo produtor,
Ross Hunter), nesse filme é o quanto a aparente liberalidade com que é
retradada gradualmente a figura de Holly, de alguma forma antecipadora da
protagonista de À Procura de Mr. Goodbar
(1979), é ainda mais marcadamente conservadora. E o clímax da hipocrisia, com
ares de perversão ao espectador consciente de tudo, encontra-se no seu ambíguo
final, em que o pai não conta ao filho sobre o fato de ser a própria mãe que
acabou de ver morrer. Com a conveniente morte de Parker, absolve-se a família
de ter seus problemas privados virem à público. O melodrama rasgado aqui
desenvolvido, que não se escusa de fazer uso de artíficios dignos dos tempos de
Griffith ou do brasileiro A Filha do
Advogado, ou seja, quando o jovem advogado louro surge para defender Holly,
de imediato o espectador já sabe se tratar de seu filho. Ainda assim, caso se queira partilhar de seu pathos, tampouco deixa de apresentar um
certo charme, associado ao seu aspecto démodé,
quando contemporaneamente a maior parte dos dramas mais relevantes incorporam
aspectos sociais explícitos ou diálogos como o que a mãe sopra ao filho próximo
antes de partir desse mundo, a respeito dele aproveitar os momentos de amor,
uma luz passageira mas marcante na vida. Por menos dotada que seja de talento
quando comparada a maior sutileza de outras atrizes presentes nos filmes de
Sirk, como Jane Wyman, Turner consegue crescer quando progressivamente aumenta
sua decadência e problemas com o álcool. O melodrama da “pecadora arrependida”,
que leva seu sacríficio em benefício dos filhos ao túmulo, é evocativo não
apenas de alguns filmes clássicos do gênero, como Stella Dallas (1937), como de toda uma cinematografia mexicana. No
entanto, e sem muito esforço, uma contra-leitura se torna possível, de uma
Holly emancipada, gozando da atenção e do viço que lhe é negado pelo marido,
quando se envolve com Phil. E, caso não fosse marcada pela amargura da culpa,
de seu envolvimento posterior na Europa. Porém, vitima e passiva quase sempre,
após sua única ação de maior afirmação em se envolver com Phil, como é habitual
no gênero, Holly parece sempre dependente do auxílio emocional de alguma figura
masculina, seja o marido, os amantes ou o filho. Nesse quesito, até mesmo o
filme de Vidor dos anos 30, aponta para soluções mais inteligentes e
progressistas. Destaque para o vulgar recurso óptico que demarca a passagem das
sequências, típico dos seriados de TV e que seria apropriado como comentários
irônico por cineastas como Fassbinder ao final da carreira. Universal
Pictures/Ross Hunter Prod./Elteee para Universal para Universal Pictures. 100
minutos.
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