Filme do Dia: Dirigindo no Escuro (2002), Woody Allen





Dirigindo no Escuro (Hollywood Ending, EUA, 2002). Direção e Rot. Original: Woody Allen. Fotografia: Wedigo von Schultzendorff. Montagem: Alisa Lepselter. Dir. de arte: Santo Loquasto & Tom Warren. Cenografia: Regina Graves. Figurinos: Melissa Toth. Com: Woody Allen, Téa Leoni, Treat Williams, George Hamilton, Debra Messing, Mark Rydell, Peter Gerety, Jodie Markell, Barney Cheng, Yu Lu.
         Val Waxman (Allen) é um cineasta em franco declínio que vê na proposta dos produtores para realizar o remake de um filme noir que ele próprio considera medíocre, A Cidade Que Nunca Dorme, a chance de reavivar sua carreira. A primeira dificuldade é ter  como produtores sua ex-mulher, Elli (Leoni) e o atual companheiro, Hal Jaeger (Williams), por quem ela o abandonou. Para piorar tudo, em meio a produção do filme, Val tem um súbito acesso de cegueira. Tal transtorno psicossomático o levará a dirigir todo o filme completamente cego, com o auxílio do produtor Al Hack (Rydell) e do tradutor Chau (Cheng), única pessoa em que Val confia. Porém, se a situação já é complicada o suficiente, tornar-se-á totalmente problemática quando Chau é despedido por viver em constantes atritos com o cinegrafista Kau Chan (Lu). Hack procura então Elli e lhe conta tudo. Val faz um desabafo com a bisbilhoteira da revista Esquire, Andrea Ford (Markell), acreditando se tratar de Ellie. Embora o filme seja um rematado fracasso de crítica nos EUA, a França acaba-o recebendo muito bem, o que abre as portas para o mercado europeu. Por outro lado, toda a dificuldade durante a produção acabou reaproximando Val de Ellie, que decide voltar a se relacionar com ele.
        O usado mote do cineasta em crise que gerou obras-primas como 8 e ½ de Fellini, está longe de gerar algo semelhante ou mesmo algo tendo como referencial a própria obra de Allen – seu Memórias, que trabalha uma temática semelhante, é um de seus melhores filmes. Como nas suas últimas obras tudo parece reciclado ao cubo, tirando qualquer possibilidade de nos depararmos com o humor genuíno que está presente em suas melhores obras. Por outro lado a criatividade visual que move algumas dessas como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, Memórias, Zelig,    Neblina e Sombras e outros fica cada vez mais enjaulada pelo apuro de uma direção de arte eficiente e diálogos cada vez mais auto-referentes, seja por reproduzirem situações semelhantes de filmes anteriores do cineasta ou por simplesmente serem piadas particulares que, aliás, nem são tão particulares assim (a referência ao cinegrafista chinês, quando se sabe que Zhao Fei efetivou alguns dos últimos trabalhos do cineasta; sua atual desvalorização pela crítica, sobretudo americana, ao contrário de sua melhor recepção na Europa, etc). De toda forma, o cineasta parece retroceder a dramaturgia extremamente auto-centrada anterior a Hannah e Suas Irmãs, em que tudo o mais parece secundário em relação a seu alter-ego. Os diálogos soam excessivamente redundantes,  como as seguidas reclamações de Val sobre a imbecilidade de seu competidor para a ex-mulher, repetindo um mote presente, de forma mais sutil e divertida, na sua produção pós-Noivo Neurótico e as situações destituídas de intensidade. Até mesmo as citações tornam-se excessivamente explícitas. Além de aproximar-se do mote do filme de Fellini, como já observado e fazer referências a Noite Americana, de Truffaut, nos momentos em que o cineasta deve optar por adereços da produção, Allen ainda faz questão de citar nominalmente, em outros momentos, tanto Fellini quanto Truffaut. Ou ainda cita ele próprio, como na seqüência em que faz exames e suspeita possuir um tumor no cérebro, presente em Hannah. Seu tom auto-condescedente e repetitivo gera uma expectativa de que nos próximos filmes o cineasta consiga ainda demonstrar sua indiscutível veia de originalidade e “experimentação” em diversos tipos de dramaturgia para abordar seus temas mais caros. Dreamworks SKG/Gravier Productions/Perdido Productions. 112 minutos.

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