Filme do Dia: Morte em Veneza (1971), Luchino Visconti
Morte em Veneza (Death in Venice,
Itália/França, 1971). Direção: Luchino Visconti. Rot. Adaptado: Nicola Badalucco &
Luchino Visconti, baseado no romance de Thomas Mann. Fotografia: Pasqualino De
Santis. Montagem: Ruggero Mastroianni. Dir. de arte: Ferdinando Scarfiotti. Figurinos: Piero Tosi. Com: Dirk Bogarde, Romolo Valli, Mark Burns, Nora Ricci, Bjorn Andressen,
Marisa Berenson, Carole André, Silvana Mangano, Leslie French, Franco Fabrizi.
Gustav
von Aschenbach (Bogarde), famoso maestro e compositor, chega em Veneza e
hospeda-se no tradicional Hotel des Bains. Lá acaba interessando-se por um
jovem adolescente polônes, Tadzio (Andressen), que encontra-se com sua mãe
(Mangano) e irmãs. Seguindo os seus passos, Aschenbach deposita nesse amor
platônico a possibilidade de seu renascimento espiritual e musical, já que
volta a compor, após o fracasso de sua última apresentação, quando foi vaiado
pelo teatro em peso. E escreve agora com paixão, deixando de lado o
racionalismo excessivo que acabou gerando a reação contrária do público. Em
meio aos encontros casuais e nem tanto casuais com Tadzio, que sempre
corresponde ao seu olhar, Aschenbach relembra as discussões estéticas com o
também compositor Alfred (Burns), a vida idílica com a esposa (Berenson) e a
filha, o falecimento da última e o encontro frustrado com uma prostituta,
Esmeralda (André). Quando sua viagem para Munique é frustrada porque sua
bagagem partiu para Como, Aschenbach sente uma satisfação quase infantil de
permanecer mais algum tempo em Veneza, perto do objeto de seu amor. Porém, a
alegria radiante que sente ao retornar ao hotel, se dissipa rapidamente quando
aumentam os boatos de que uma peste se espalha pelas ruas de Veneza, que estão
sendo desinfetadas. Negada por todas as autoridades, inclusive o gerente do
hotel (Valli), a notícia é confirmada por um escrupuloso agente de viagens
(French), que aconselha Auschenbach de abandonar Veneza o quanto antes. Ao
chegar no hotel, toma notícia que a família de Tadzio parte após o almoço.
Tempo suficiente para que ele possua uma idílica visão do objeto de seu amor,
ao mesmo tempo em que morre na praia semi-deserta.
Abertamente inspirada na biografia de Gustav Mahler, a
obra de Mann, no entanto, transforma o protagonista em escritor. Visconti não
só faz com que ele torne-se compositor, como ainda utiliza-se da terceira e
quinta sinfonias do mesmo. A densa discussão sobre estética presente no livro
acabe se tornando esquemática e superficial tal e qual apresentada, nos flashbacks das discussões entre
Auschenbach e Alfred. O mesmo não pode-se dizer da difícil (e talvez a mais bem
realizada em toda a história do cinema) transposição do amor platônico para às
telas, que ampara-se sobretudo na beleza plástica do filme (com especial
destaque para a seqüência inicial da chegada em Veneza e o momento que antecede
a morte do compositor, em que o clímax da sensibilidade estética identifica-se
com a morte) e na utilização maciça das composições de Mahler (sobretudo a
quinta sinfonia, que acaba tornando-se também uma das protagonistas do filme).
Como outros filmes do cineasta, esse também é um retrato da perda da dignidade humana:
Auschenbach transformando-se num ser tão patético como aquele que encontrara em
sua chegada à Veneza, condição a qual não lhe resta mais que um riso/choro
desesperado; todo o sonho de juventude, enquanto sinônimo de beleza e vida,
desfaz-se como a maquiagem sobre o sol num esgar de morte com a cólera. O nome
do vapor que o traz para a cidade possui o mesmo nome da prostituta com que se
encontrara na juventude, como que explicitando que ambos os encontros serão
frustrados. Entre as fraquezas do filme encontra-se a utilização excessiva do zoom, recurso em moda à época, e que
apenas enfraquece a beleza visual dos habituais grandes planos com que o
cineasta trabalha e o fato de ser falado em inglês. Como todos os filmes do
cineasta, possui diversas versões, como as de 130 e 135 minutos. Ficam de fora
dessa versão, com relação a uma lançada em vídeo, por exemplo, cenas de
monólogo interior de Auschenbach e a especulação sobre o nome de Tadzio. Alfa
Filme/Warner. 125 minutos.
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