Filme do Dia: This is England (2006), Shane Meadows
This is England (Reino Unido, 2006). Direção e Rot. Original:
Shane Meadows. Fotografia: Danny Cohen. Música: Ludovico Einaudi. Montagem:
Chris Wyatt. Dir. de arte: Mark Leese & Caroline Grebbel. Figurinos: Jo
Thompson. Com: Thomas Turgoose, Stephen Grahan, Jo Hartley, Andrew Shim, Vicky
McClure, Joseph Gilgun, Rosamund Hanson, Andrew Ellis.
1982. Shaun (Turgoose) é um
garoto que perdeu o pai nas Malvinas e é alvo de piadas na escola. Aos poucos
ele se torna próximo de um grupo de garotos mais velhos, liderados por Woody
(Gilgun), que adoram fazer pequenas travessuras. O grupo é divido com a chegada
de Combo (Grahan), recém-saído da prisão, transformado em fanático nacionalista
que prega um ódio a negros e estrangeiros. Woody e sua namorada Lol (McClure),
assim como o amigo negro deles Milky (Shim), afastam-se de Combo. Shaun fica e
se torna a mascote do grupo. Combo, que havia tido uma relação fortuita
com Lol antes de ir preso, tenta se aproximar novamente dela, que o rejeita. A
tensão crescente entre os dois grupos explode certo dia que Milky resolve fumar
maconha com o grupo de Combo.
Admirável drama de colarações
provavelmente autobiográficas que faz uma radiografia de uma juventude pobre
inglesa dividida entre um certo anarquismo punk e outra skinhead, mais voltada
para um agressivo ressentimento. Talvez a contraposição soe esquemática, mesmo
com alguns personagens circulando entre os dois grupos, tais como Smell, a
“noiva” de Shaun, porém uma das virtudes do filme consiste justamente na
extensa metragem que tem que ser percorrida até podermos nos situar com mais
precisão sobre qual terreno estamos efetivamente pisando, inclusive em termos
dramáticos. Dimensão que ainda é mais salientada por sua abertura com um
videoclipe que sugere uma hipótese de se tratar de uma sátira inconseqüente. O
que soa inconseqüente por vezes, ao menos até realmente ficar evidente de que
situação se trata, é um trunfo para o filme, que acaba reproduzindo em sua
própria narrativa, o desnorteio de seu jovem protagonista, uma peculiar versão
do Doinel de Incompreendidos (1959), de Truffaut, com final semelhante
ao qual provavelmente alude. Engenhosamente, o panorama que Meadows traça da
Inglaterra suburbuna e provinciana embora seja bastante amplo é reproduzido em
um micro-cosmo de limitados horizontes no qual nenhuma ação realmente grandiosa
ocorre, desconstruindo a expectativa daqueles que acreditavam que o filme fosse
trilhar um rumo mais próximo das convenções de gênero. Pode-se ler o filme como
a escolha do protagonista (e por extensão, uma parcela da nação) por um pai
substitutivo que o encaminha para uma direção equivocada, por conta de sua
imaturidade e carência, algo que ele somente tomará consciência quando a
violência o afetar muito proximamente, diante de seus olhos. A conversa com a
mãe e a seqüência final apontam para um “retorno à razão”, e a tomada de
consciência se reflete na bandeira nacionalista que é afundada no oceano,
afastando-se aqui da mais arguta indeterminação que acompanha o final de Os
Incompreendidos. Big Arty/EM Media/Film4/Optimum
Releasing/Screen Yorkshire/UK Film Council/Warp Films para Optimum Releasing. 101 minutos.
Comentários
Postar um comentário