Filme do Dia: Casta Diva (1954), Carmine Gallone


Casta Diva (Itália, 1954). Direção: Carmine Gallone. Rot. Original e argumento de Walter Reisch, Carmine Gallone, Agenore Incrocci, Furio Scarpelli, Luigi Filippo D’Amico & Léo Joanno. Fotografia: Marco Scarpelli. Dir. de arte: Mario Chiari. Figurinos: Maria De Matteis. Com: Maurice Ronet, Antonella Lualdi, Nadia Gray, Fausto Tozzi, Jacques Castelot, Marina Berti, Renzo Ricci, Jean Richard.
Vincenzo Bellini (Ronet), recém-diplomado no conservatório de música, apaixona-se pela jovem Maddalena. Para ela escreve uma peça musical chamada Casta Diva em seu tributo. Ele recusa a oferta da célebre cantora Giuditta Pasta de ir para Milão, com pretensões de se casar com Maddalena e permanecer na Sicília. O casamento não ocorre e Bellini, desencantado, parte para Milão e se une a Giuditta, conquistando o sucesso com a ópera O Pirata. Com ciúmes do sucesso do jovem compositor Donizetti o confronta e é proposto um duelo operístico entre ambos. Bellini, no entanto, nada consegue compor e, ainda apaixonado por Maddalena, abandona Giuditta e escreve uma ópera, Norma, que não cai no gosto do público. Desencantado com os rumos que sua vida pessoal e profissional tomou, Bellini monta, através do esforço de Maddalena via Giuditta, Casta Diva, que se torna um triunfante sucesso. Quando Maddalena vai cumprimentá-lo, percebe ele assediado por várias mulheres e vai embora desgostosa. Doente terminal, Maddalena não resiste a visita de Bellini, que já a encontra no leito morta.
Gallone, nesse filme luxuoso e suntuosamente (requinte para poucos filmes italianos no momento) fotografado em technicolor consegue uma paradoxal sóbria espetaculosidade. Se a biografia romanceada de Bellini se transforma numa trama típica de um rasgado romantismo, com direito a mulher idealizada e eternamente casta, Gallone faz com que essa dimensão dramática excessiva acabe se transferindo mais para as cores, assim como para o soberbo, fluido e meticuloso trabalho de uma câmera que suavemente se aproxima dos espaços menos prováveis, “atravessando” grades (numa cena evocativa do Profissão: Repórter (1975), de Antonioni) ou deslizando até um personagem do outro lado da mesa por meio dos impecáveis cenários. Que não se cobre qualquer percepção política mais apurada do período retratado e muito menos a utilização desse para refletir sobre o momento contemporâneo italiano, tal como Visconti efetuara em seu épico produzido no ano anterior, e também em cores, Sedução da Carne, ainda que Gallone tenha feito operação semelhante, e sem maiores sutilezas, a serviço do fascismo, em seu filme mais lembrado, Cipião, O Africano (1937). Nos momentos em que o canto lírico é representado no palco, e não são poucos, a câmera por vezes proporciona movimentos de perfeita harmonia entre o seu movimento, a descrição do público espectador e o espaço arquitetônico do teatro. Gallone já havia filmado a mesma história em 1935. Documento Film/Franco London Films/Le Louvre Film para Diana Cinematografica. 98 minutos.

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