Filme do Dia: Sinais de Vida (1968), Werner Herzog
Sinais de Vida (Lebenszeichein, Al. Ocidental, 1968). Direção: Werner Herzog. Rot.
Adaptado: Werner Herzog, a partir do conto de Achim Von Armin. Fotografia:
Thomas Mauch. Música: Stavros Xarhakos. Montagem: Beate Mainka-Jellinghaus.
Com: Peter Brogle, Wolfgang Reichmann, Athina Zacharopolou, Wolfgang von
Ungern-Sternberg, Wolfgang Stumpf, Henry
van Lyck, Julio Pinheiro, Florian Fricke.
Stroszek (Brogle) é
um soldado afastado por problemas nervosos para um forte em uma região grega
ocupada pelo exército alemão onde praticamente nada ocorre. Durante certo tempo
sua convivência é relativamente pacífica com a esposa Nora (Zacharopolou), que
cuidara dele como enfermeira no hospital e os colegas Becker (Ungern-Sternberg)
e Meinhard (Reichman). Porém, certo dia em missão por insistência sua junto à liderança com relação ao sentimento de opressão por seu confinamento no
forte, depara-se com a visão de centenas de moinhos girando e tem um momento de
loucura. Aparentemente recuperado, volta a se revoltar quando descobre que será
enviado de volta para casa, o que ele acredita ser uma delação de seus próprios
amigos e da esposa e começa a atirar contra tudo e todos se refugiando
solitário no forte, onde ocasionalmente lança fogos de artifício.
Filme de estréia de
Herzog, que iria se consolidar como um dos maiores realizadores do Novo Cinema
Alemão. Observado em retrospectiva muitos dos elementos que iriam caracterizar
a obra do realizador já se encontram aqui presentes: a estranheza de certas
imagens, o gosto por locais distantes do que habitualmente se compreende como o
mundo ocidental padrão e – principalmente – uma reflexão sobre a revolta da
subjetividade contra certa ordem constituída do mundo, de influência
grandemente romântica. Ao mesmo tempo em que observamos todos os cálculos
estratégicos envolvidos na operação de detenção de Stroszek (evidente
referência ao protagonista de Buchner que será adaptado por Herzog dez anos
após) por um lado, observamos do outro lado as explosões de fogos de artifício
que remetem aos sinais de vida que fazem referência ao título. A narrativa
certamente é construída de modo bem mais distanciado até mesmo que outras obras
posteriores do realizador que enfatizam personagens igualmente movidos por um
“excesso de subjetividade” (tais como em O Enigma de Kaspar Hauser) e seu conflituoso contato com o mundo regido pela
razão. Tal dimensão fica algo evidente no modo como os temas musicais, o laconismo, a angulação e
desprendimento com relação a uma narrativa mais clássica e – principalmente - a
locução in off efetivada pelo próprio
Herzog irão certamente enfatizar, não sendo difícil perceber a simpatia com que
o realizador se depara com essa manifestação de loucura que provoca uma
irrupção de beleza (a primeira explosão é certamente a sequencia mais bela e
inesperada do filme) em constraste com o seco e modorrento cotidiano retratado.
Destaque para a bela fotografia em preto&branco que realça a opressão
provocada pelo clima e pela excessiva iluminação no conjunto dos personagens.
Assim como para irrupções de personagens/momentos que aparentemente nada
acrescentariam à trama – o descendente de ciganos que se diz rei, o
soldado-pianista (Fricke, músico, voltará a encarnar um pianista em Kaspar Hauser). Há uma óbvia referência
a obra de Cervantes na longa panorâmica que acompanha o vale repleto de
moinhos. O conto no qual Herzog se inspirou para seu filme foi escrito em 1818.
Urso de Prata para primeira obra no Festival de Berlim. Werner Herzog
Filmproduktion. 91 minutos.
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