Filme do Dia: Batismo de Sangue (2006), Helvécio Ratton



Batismo de Sangue (Brasil, 2006). Direção: Helvécio Ratton. Rot.Adaptado: Dani Patarra & Helvécio Ratton baseado no livro homônimo de Frei Betto. Fotografia: Lauro Escorel. Dir. de arte: Adrian Cooper. Figurinos: Marjorie Gueller. Com: Caio Blat, Daniel de Oliveira, Odilon Esteves, Renato Parara, Leo Quintão, Marcélia Cartaxo, Cássio Gabus Mendes, Kássia Lumi Abe, Jorge Emil, Odilon Esteves.

Um grupo de frades, como o jornalista Betto (Oliviera) e o estudante de filosofia Tito (Blat) passam a fazer parte de um braço de apoio ao movimento de luta armada empreendido por Carlos Mariguella (Ribas). Após o malfadado congresso dos estudante em Ibiúna, em 1968, quando todos os estudantes foram surpreendidos pelos agentes do regime militar, o grupo decide se dispersar. Uma parte vai para um convento no Rio Grande do Sul, onde continuam atuando, levando perseguidos pelo regime para a fronteira com o Uruguai. Após o seqüestro do embaixador americano por Mariguella a repressão se torna ostensiva. Os frades Ivo (Esteves) e Diogo (Emil), torturados, acabam revelando aonde se encontrarão com Mariguella, que é fuzilado. Tito é também capturado e posteriormente Betto, entregue pelo próprio amigo. Transferidos para um presídio comum, onde passam a  levar uma vida mais tranqüila, Tito é vítima de novas sessões de tortura,  comandada pelo truculento delegado Fleury (Mendes). A partir de então, Tito se torna cada vez menos social. Consegue ser libertado por conta de outra ação da guerrilha urbana, o seqüestro de um embaixador suíço e parte para a França. Porém, nem o apoio dos frades franceses nem a visita da irmã Nildes (Cartaxo) mudarão os seus tormentos psicológicos. Constantemente acometido por alucinações com memórias de seus algozes, Tito pratica o suicídio.

O filme de Ratton, seguindo os passos da produção cinematográfica padrão brasileira contemporânea, retrata da forma mais convencional possível, essa página da história do Brasil tematizada por vários outros filmes produzidos no mesmo período, notadamente Zuzu Angel e Cabra Cega. Como nos títulos anteriores, esmera-se numa direção de arte que busca reconstituir figurinos e adereços diveros da época, e se enfatiza um tom marcadamente emocional e maniqueísta que poucas luzes lança sobre o período em questão. Vão nesse último sentido as longas e realistas cenas de tortura, a missa realizada com hóstias improvisadas no cárcere (o ápice dramático do filme) e a saída dos presos políticos sobre o coro do hino nacional. Ou ainda o odioso e mesquinho Fleury vivido por Mendes e todo seus comparsas. Foge-se, como é comum nessa produção, de qualquer viés que problematize o drama pelos protagonistas para além da contraposição entre uma joventude rebelde, libertária e vitimizada lutando heroicamente contra o mundo das trevas e da brutalidade. Sobra para o resto da sociedade, entrevista de relance, o canhestro e esquemático registro de um povo alienado que apenas se preocupa com as vitórias do Brasil na Copa do Mundo. Nada mais distante da radiografia complexa do populismo de esquerda e do autoritarismo de direita pensado visionariamente por Gláuber no próprio momento histórico em questão,  com seu Terra em Transe (1967), e mesmo de propostas contemporâneas  seemlhantes ao filme de Ratton que, mesmo abraçando os mesmos e triviais  valores estéticos, dramatúrgicos e ideológicos , conseguiram ir um pouco além da fórmula (O   Ano em que Meus Pais Saíram de Férias). Quimera Produções. 110 minutos.


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