Filme do Dia: A Prova do Leão (1965), Cornel Wilde


A Prova do Leão (The Naked Prey, EUA, 1965). Direção: Cornel Wilde. Rot. Original: Clint Johnston & Don Peters. Fotografia: H.A.R. Thomson. Música: Edwin Astley, Andrew Tracey & Cornel Wilde. Montagem: Roger Cherill. Com: Cornel Wilde, Gert van den Berg, Ken Gampu, Patrick Mynhardt, Bella Randles, Morrison Gampu, Sandy Nkomo, Eric Mcanyama.
Explorador na África de meados do século XIX (Wilde), é capturado por um grupo de nativos, após um companheiro (Berg) seu de expedição, inadvertidamente ter agido com truculência no trato com os mesmos. Consegue fugir, mas é perseguido por um grupo de nativos, matando alguns deles. Chega ao limite de uma outra aldeia, onde conquista a simpatia de uma pequena garota (Randles), que o recolhe de uma situação de quase afogamento, após a aldeia ter sido invadida, sendo os nativos capturados para o comércio escravo. Seus perseguidores, que haviam desistido diante da situação de conflito maior, quando voltam a vê-lo vulnerável continuam a perseguição, mas o homem se aproxima de uma fortaleza da Legião Estrangeira.
Saudado por alguns por seu pretense estranhamento com as regras dramatúrgicas convencionais parecendo, de certo modo, antecipar filmes centrados numa situação única – tal como o Encurrralado (1971), de Spielberg. De fato existe poucos diálogos e um tanto banais ao início, mas existe todo um condicionamento cultural que nos faz “sentirmos em casa” com o universo apresentado, após décadas de filmes colonialistas que utilizaram a África como mero cenário para suas tramas. E aqui não é nada diferente sob este aspecto. Aliás, certamente ainda mais tosco que visões coloniais célebres do cinema tais como O Demônio da Argélia (1938), já que se trata de um etnocentrismo sem nome e sem marco histórico definido que não o de “cem anos atrás” como explicita o narrador ao início, fazendo ainda menção aos homens que lá viviam terem adotado uma postura de vida em nada diversa das bestas. Ou seja, não se trata propriamente de um conflito de culturas em questão. E o que mais espanta – ou espantaria, se não fosse toda uma tradição cinematográfica já sedimentada – é o quanto o explorador branco consegue ter mais folego e ser mais ardiloso que os próprios nativos, muito melhor conhecedores e adaptados ao ambiente em que vivem, inclusive no traquejo de instrumentos de uso dos índios; já que, por falta de munição ou altruísmo abdica do uso de armas de fogo,  opção bastante distinta e pouco representativa do colonizador. E a representação desse homem é encarnada pelo próprio cineasta e galã de talento escasso que é Wilde. Quando convém a narrativa, no entanto, a enorme perícia no uso dos utensílios de combate não corresponde ao mesmo no plano da caça, e o herói passa fome, sem conseguir caçar nem mesmo um mísero lagarto.  O mote do predador e da presa, aliás,  é todo tempo lembrado no mundo animal, como no sapo que engole seus semelhantes menores ou da cobra que abocanha um pássaro, mas no caso do filme tal referência não faz jus ao título original, já que a presa aqui parece ser muito mais predadora que o oposto, dado o número de vítimas que faz durante sua perseguição. O distanciamento de qualquer possibilidade de empatia com os nativos, à exceção de uma leitura a contrapelo, vai da tradicional falta de individuação dos mesmos, observados como coletivo amorfo à presença constante de falas dos mesmos não traduzidas. E para completar o retrato, observa-se a relação paternalista com a pequena garota que fica extremamente tocada por um mero esboço de acolhida do homem, no momento de captura e massacre de sua aldeia, chorando por ele na margem do rio, como se ele tivesse sido seu salvador, assim como a consignação através de um gesto final do líder dos guerreiros do respeito por sua bravura e fibra. Sven Persson Films/Theodora Prod. para Paramount Pictures. 96 minutos.

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