Filme do Dia: Van Gogh (1948), Alain Resnais

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Van Gogh (França, 1948). Direção e Montagem: Alain Resnais. Rot. Original: Gaston Diehl & Robert Hessens, a partir da ideia do primeiro, baseada na história de vida do pintor. Fotografia: Henry Ferrand. Música: Jacques Besse.
Várias produções já buscaram tirar partido do caráter único da obra pictórica de Van Gogh. Em alguns casos ficou-se com a evocação dos tons de sua paleta (Sede de Viver) ou mesmo a busca da reprodução mimética de seus quadros (um dos episódios de Sonhos, de Kurosawa). Noutras, a própria estética do realizador é utilizada como principal componente visual como no longa de animação Com Amor, Vincent. Aqui, a trajetória biográfica do artista surge a partir de sua própria obra e estritamente preso a ela, em termos visuais. Tendo realizado uma série de curtas sobre pintores aos quais renegaria pouco após, Resnais talvez consiga o seu primeiro enfrentamento criativo digno de nota, conseguindo pela primeira vez algum reconhecimento crítico (o filme ganharia o Oscar de curta em dois rolos, assim como um prêmio no Festival de Veneza). Basicamente nutrido de uma narração over, a cargo do ator Claude Dauphin, e estratégias visuais que incluem inicialmente o uso intenso de suaves sobreposições e posteriormente zooms se aproximando ou mais frequentemente distanciando de motivos de alguns quadros, assim como arguta edição (a cargo do próprio realizador) e passeios criativos pelas obras, que parecem roçar na própria aspereza do que é ocasionalmente retratado, como um muro ao qual a câmera observa sua altura progressivamente como se fizesse a descrição de um muro real, ou uma tentativa menos bem sucedida de “adentrar” na profundidade de campo de outra obra. Panorâmicas descritivas se detém sobre a paisagem de um quadro. A montagem se encarrega de trazer muitas vezes detalhes dos mesmos.  Para sorte de Resnais e sua equipe, Van Gogh pintava o mundo e os tipos que o cercavam, sendo as passagens importantes de sua vida, como os deslocamentos de uma cidade para outra, apresentados. O ápice de tal uso se dá quando se observa um prédio em uma rua de Arles, cuja janela dá acesso ao modesto interior do quarto do artista. Para um artista em que as cores tinham grande intensidade expressiva, o fato do filme ser fotografado em preto&branco traz um diferencial. Faz parte de um momento em que a cinematografia francesa se encontra particularmente interessada em dialogar com as artes visuais, sendo Resnais um dos nomes mais recorrentes (também filmará Guernica e Gauguin), assim como François Campaux (Henri Metisse,  de 1946),  Henri Storck (com o longa belga Rubens, de 1948), Clouzot (O Mistério Picasso). Canton-Weiner/Les Amis de l’Art/Panthéon Prod. 17 minutos e 53 segundos.

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