O Dicionário Biográfico de Cinema#9: Bertrand Blier
Bertrand Blier
n. Paris, 1939
1962: Hitler?... Conais Pas! (d). 1967:Si J'étais un Espion: 1974: Corações Loucos/Les Valseuses. 1975: Calmos. Preparem seus Lenços/Préparez vos Mouchoirs. 1979: Coquetel de Assassinos/Buffet Froid. 1981: A Filha da Minha Mulher/Beau-Pére. 1983: A Mulher do Meu Melhor Amigo/La Femme de Mon Pote. 1984: Quartos Separados/Notre Histoire. 1986: Meu Marido de Batom/Tenue de Soirée. 1989: Linda Demais para Você/Trop Belle pour Toi. 1991: Merci la Vie. 1993: Un, Deus, Trois, Soleil. 1996: Mon Homme. 2000: Os Atores/Les Acteurs. 2003: Les Côtelettes. 2005: Por Amor ou Por Dinheiro?/Combien, Tu M"aimes?
Quando Bertrand Blier nasceu, seu pai, o ator Bernard Blier (1916-89), fazia Trágico Amanhecer/La Jour se Léve para Carné e Prevert. Isso pode ajudar a explicar porque Bertrand Blier, que chegou a idade adulta quando os filmes da Nouvelle Vague estavam estourando (*), tenha permanecido vinculado à tradição anterior. Blier, filho, é um provocador. Seus diálogos não são tão bons quanto os de Prevert, mas suas ideias são adoráveis e graciosas inversões da ordem que agradam à fantasia burguesa. Seu apelo comercial reside em uma subversão milimetricamente medida, em seu excitante perigo, e em seu uso de atores bem sucedidos em roteiros bem feitos. E devemos perceber que Blier passou a se bancar nas bilheterias francesas justamente quando a geração da Nouvelle Vague começava a apresentar sinais de cansaço. Não é muito difícil perceber que Blier pode ser avaliado não apenas ao lado de Carné, mas de Lubitsch e Wilder. Há muito a ser dito de filmes que trespassam a pele, os nervos, e o sentimento de segurança das classes médias. Há mesmo momentos em que o astuto e oportunista Blier parece um companheiro de Buñuel.
Ele trabalhou como assistente de diversos diretores, notadamente não afiliados a Nouvelle Vague (incluindo Christian-Jaque e Jean Delannoy). Realizou documentários e escreveu romances antes do divisor de águas Corações Loucos - proveniente de um de seus romances. Esse foi um filme que encorajava ou permitia do público ser assustado pelas verdadeiras forças de injúria que mais a alarmam. A fama de Gérard Depardieu cresceu com o sucesso do filme, pois Depardieu era exatamente o Calibã que Blier buscava trazer à baila.
Calmos foi um sardônico ataque ao feminismo -e mesmo às mulheres, pois Blier possui diversas cepas do clássico reacionário em si. Preparem seus Lenços foi realizado ostensivamente para chocar - envolvia trocas sexuais e Carole Laure se entregando a um adolescente -, no entanto, ganhou o Oscar de filme estrangeiro. Coquetel de Assassinos foi um thriller satírico, com Depardieu enquanto um inocente atoleimado envolvido em uma história de assassinato.A Filha de Minha Mulher foi uma versão de Lolita. A Mulher do Meu Melhor Amigo foi outra história sobre inquietação sexual. Quartos Separados foi uma mistura excêntrica de Buñuel e The Lover, de Harold Pinter. Meu Marido de Batom segue o velho padrão de trocas sexuais em relações gays e Linda Demais para Você é um escárnio com a noção como um todo de amabilidade.
A atitude picante em muitos dos filmes de Blier é invariavelmente colorida com cinismo. Ele é suave, mas a atmosfera dos filmes é desamparada, irônica ou confusa. Com apenas um toque de espanto, seus filmes poderiam ser incomensuravelmente melhores. Mas Blier é demasiado atento a não desperdiçar uma cômoda piada cruel.
Texto: Thomson, David. A Biographical Dictionary of Film. Londres: Knopf,, 2010, pp. 991-6.
(*) o autor faz uso de um trocadilho intraduzível que ao pé da letra seria algo como "quando os filmes das Nova Onda estavam espirrando na praia"
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