Filme do Dia: J. Edgar (2011), Clint Eastwood


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J. Edgar (EUA, 2011). Direção: Clint Eastwood. Rot. Original: Dustin Lance Black. Fotografia: Tom Stern. Música: Clint Eastwood. Montagem: Joel Cox & Gary Roach. Dir. de arte: James J. Murakami, Greg Berry & Patrick M. Sullivan Jr. Cenografia: Gary Fettis. Figurinos: Deborah Hopper. Com: Leonardo di Caprio, Armie Hammer, Josh Hamilton, Judi Dench, Naomi Watts, Ken Howard, Josh Lucas, Damon Herriman, Christopher Shyer, Jeffrey Donovan.
J. Edgar (Caprio), a partir de ataques terroristas perpetrados por organizações de esquerda nos EUA em 1919, cresce com duas obsessões: transformar o FBI numa eficiente organização e não mais um mero cabide de empregos às custas da influência de políticos e varrer a possibilidade de membros de organizações de esquerda voltarem a ter alguma proeminência. Criado por uma mãe (Dench) autoritária e de forte personalidade, Edgar não assume sua relação homossexual com o parceiro de várias décadas, Clyde (Hammer), a quem transforma em vice-diretor da organização. Seu caminho para a popularidade veio com a investigação sobre o sequestro e morte do bebê filho do aviador Charles Lindberg (Lucas), e o seu aparente culpado, Bruno Hauptmann (Herriman). Acusado de nunca fabula poses nas cenas já dominadas de ações de grande apelo público, como as prisões ou mortes de célebres gangsteres. Envelhecido, ele resiste à aposentadoria, ainda se relacionando com Clye, e temeroso de que com a sua morte, Nixon provoque uma devassa em seus arquivos pessoais, pedindo que sua fiel escudeira, Helen Gandy (Watts), a quem um dia havia pedido a mão em casamento, cuide para que sejam mantidos longe das mãos dos agentes do presidente.
Eastwood passeia por um gênero visitado com frequência pelo cinema norte-americano com resultados talvez menos pretensiosos do que Capote, mas provavelmente mais instigantes do que produções megalomaníacas ao estilo de O Aviador, com o qual pode ser inevitavelmente comparado, seja pela presença de Di Caprio como protagonista, seja por um desenho de produção semelhante e também grandemente devedor dos efeitos digitais. Hoover, uma das figuras mais execradas pelo meio artístico e pela esquerda norte-americana sofre um processo de “humanização” que observa, a partir de um determinismo psicológico típico os motivos para as ambiguidades e contradições de um personagem que, ao mesmo tempo que enfrenta os barões do crime organizado de Chicago e se torna herói de histórias em quadrinhos, procura manter sua vida sexual-afetiva à distância da bisbilhotice, que era por excelência, um trunfo nunca completamente bem sucedido contra seus potenciais opositores, fosse Eleanor Roosevelt, Martin Luther King, os irmãos Kennedy ou Nixon. A explicação para sua personalidade atormentada, obsessiva e incapaz de assumir sua própria sexualidade são encontradas em mais uma representação over de figura materna, mais uma serpente a gerar seu ovo. O filme talvez se estenda em demasia sobre determinadas particularidades da carreira de Hoover e exclui alguns dos elementos que dariam pano para o sensacionalismo, como a do sabido travestismo de seu personagem, provavelmente com medo de ruir a parede de tensão que pretende erigir sobre seu “atormentado” personagem. De toda forma, os clichês assomam no momento, por exemplo, em que a alusão ao travestismo do personagem se dá justamente com a morte da mãe, ocorrendo a partir daí uma parcial catarse com relação a muitos de seus recalques. Di Caprio vive seu personagem com ganas de Welles em Cidadão Kane, algo auxiliado pela maquiagem, também evocativa daquele – algo bem pior, mesmo tosco, seria a utilizada sobre Hammer, na representação de seu companheiro de décadas. O cinema surge como principal mediação com a opinião pública e logo deixa de mistificar os gangsteres para ficar do lado da lei, para a alegria de Hoover. É nele, que sua mãe verte lágrimas em um cinejornal que aborda o sequestro e morte do bebê Lindberg. E são suas estrelas, de Shirley Temple a Ginger Rogers, que compartilham o universo da fama com Hoover.Imagine Ent./Malpaso Prod./Wintergreen Prod. para Warner Bros. 137 minutos.

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