Filme do Dia: Através da Janela (2000), Tata Amaral
Através da Janela
(Brasil, 2000). Direção: Tata Amaral. Rot. Original: Jean-Claude Bernardet,
Fernando Bonassi & Tata Amaral. Com: Laura Cardoso, Fransérgio Araújo, Ana
Lúcia Torre, Leona Cavalli
Selma
(Cardoso), é viúva e dispende todas as atenções para o filho Raimundo (Araújo),
a quem chama carinhosamente de Raí. A relação torna-se cada vez mais ambígua,
em seu erotismo, como comprova até mesmo a vizinha e amiga de Selma, Tomasina
(Torre). Em poucos dias, no entanto, a situação torna-se simplesmente
embaraçosa para Selma, quando ela descobre que seu filho a usou para cometer um
crime, na casa abandonada em frente onde
moram.
Amaral mais
uma vez envereda por dramas urbanos, procurando extrair dramaticidade das
situações aparentemente mais banais. Porém por trás do banal se esconde o não
tão banal como o crime e o incesto. Dividindo o filme nos cinco dias em que a
trama se desenrola, a realizador lida extremamente bem com a opção pela elipse
narrativa que guia seu filme e que, do começo ao final, não pretende apresentar
mais do que o ocorre em seu curto espaço temporal. Assim frusta-se qualquer
expectativa que explique em pormenor a operação em que Raimundo se envolveu –
Selma observa no jornal que a pessoa ao qual vira agonizante na casa próxima é
o mesmo rapaz sequestrado, porém não se sabe nada além disso. Trabalha contra
os objetivos da cineasta-roteirista, no entanto, a pouca expressividade do
trabalho conjunto dos atores, principalmente no que diz respeito a Araújo, que
chega a comprometer uma produção onde se torna imperativa a sutileza e uma
verossimilhança que não fragilizem ainda mais o já precário equilíbrio que
separa o dramático do cômico. Da mesma forma, o modo clicherizado com que os
amigos marginais de Raimundo são descritos, com sua amiga Simone mandando
“tirar essa mulher daqui”, ao dirigir-se à mãe do rapaz, soa bem aquém do
esperado. A sensação, feito o balanço
entre as qualidades e defeitos do filme, é incômoda, deixando patente a
distância entre os propósitos da realizadora e o resultado final conseguido.
Uma das cenas de grande beleza plástica apresenta a protagonista fumando
melancólica e observando a janela. Boa utilização de uma banda sonora que
incluem muitos ruídos eletrônicos. Riofilme. 82 minutos.
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