Filme do Dia: Encarnação do Demônio (2008), José Mojica Marins


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Encarnação do Demônio (Brasil, 2008). Direção: José Mojica Marins. Rot.Original: José Mojica Marins & Dennison Ramalho. Fotografia: José Roberto Eliezer. Música: André Abujamra & Márcio Nigro. Dir. de arte: Cássio Amarante. Com: José Mojica Marins, Rui Resende, Jece Valadão,  Helena Ignez, Cristina Aché, Cleo de Paris, José Celso Martinez Correia, Eduardo Chagas, Rubens Mello, Nara Sakarê.
Zé do Caixão (Marins) após 30 anos preso sai e começa a praticar uma série de crimes contra mulheres, a busca de encontrar a mulher ideal que lhe gerará o filho perfeito. Passa então a ser perseguido por um fanático religioso, que teve o pai morto por ele, pelo Coronel Claudiomiro (Valadão) e por um policial (Stuart) que acaba por matá-lo. Porém, mesmo morto, sua descendência prossegue nas inúmeras mulheres que emprenhou.
Já tendo dirigido filme de idêntico título em 1981, Marins volta ao  personagem que o celebrizou agora apoiado em um esquema de produção mais apurado e com direito a distribuição por parte de uma grande companhia. Soçobram cenas escatológicas, muitas delas bastante bem produzidas, assim como um roteiro confuso que mescla um herói-vilão protagonista que abraça um eugenismo idealizado que nunca alcança – e enquanto isso vai destroçando todas as mulheres em busca desse ideal – e ao mesmo tempo possui laivos de humanismo progressista, salvando crianças de serem massacradas ou defendendo uma comunidade ameaçada entre a cruz e a espada, ou seja, traficantes e a polícia. O fato das cenas ganharem um padrão de produção bem mais acentuado que as mais artesenais não significa que esteticamente são dignas das obras referenciais do realizador, que aqui voltam em cenas que evocam o passado do mesmo (não por acaso os dois filmes que possuem mais material utilizado são justamente os mais reconhecidos da carreira do realizador, À Meia-Noite Levarei sua Alma (1964) e Esta Noite Encarnarei em Teu Cadáver (1967). Pretende adicionar referências filosóficas e literárias – como passagens de Dante – que soam um tanto deslocadamente pretensiosas, mesmo que em uns poucos momentos o filme realmente encontre algum achado visual digno de nota e além do habitual coquetel de viscosidades e carnes e peles repuxadas, acrescentando a receita a inclusão de elementos de cinematografias mais recentes tais como os olhos sombrios, evocativos de certa produção japonesa tal como O Grito e sua versão americanizada. Os raros momentos de verdadeira inspiração, em termos de imagem, ficam menos por conta de qualquer trucagem mais elaborada, do que pelo simples efeito visual que provoca uma breve ilusão de que os olhos ou a pele se movem por sobreposição de imagens. Ou ainda o ambiente do inferno que o protagonista se vê enredado em uma de suas alucinações. Na referida sequencia,   José Celso reencarna mais uma vez o papel de guru místico, no caso aqui o Anti-Cristo, que já havia vivido em  Árido Movie, e nada além da sua própria persona artística. Dedicado a Rogério Sganzerla e Jairo Ferreira, o filme possui várias deferências ao primeiro que incluem desde a incorporação no elenco de sua diva, Helena Ignez, como a referência aos trinta anos de prisão seguidos de morte trágica, semelhantes ao do assassino que inspirou Sganzerla em seu O Bandido da Luz Vermelha. Gullane Filmes/Olhos de Cão Prod. Cinematográficas para 20th Century Fox Brasil. 94 minutos.

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