Filme do Dia: Europa 51' (1952), Roberto Rossellini


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Europa 51’ (Itália, 1952). Direção: Roberto Rossellini. Rot. Original: Roberto Rossellini, Sandro De Feo, Mario Pannunzio, Ivo Perilli & Brunello Rondi. Fotografia: Aldo Tonti. Música: Renzo Rossellini. Montagem: Jolanda Benvenutti. Dir. de arte: Virgilio Marchi. Cenografia: Ferdinando Ruffo. Figurinos: Fernanda Gattinoni. Com: Ingrid Bergman, Alexander Knox, Ettore Giannini, Teresa Pellati, Giulietta Masina, Marcella Rovena, Tino Perna, Sandro Franchina.
Irene Girard (Bergman), elegante esposa de um influente diplomata, George (Knox), ocupada com os preparativos de uma recepção em sua casa, pouca atenção dá ao filho pequeno Michelle (Franchina), que quer sua companhia. Quando jantam, sabe que o menino sofreu uma quedra e quebrou um fêmur. O pior para Irene é descobrir que se tratou de um ato consciente. Ela fica a seu lado durante boa parte da noite e quando se retira sabe através da enfermeira da trágica e repentina morte do garoto. Cada vez mais distante de seu meio social, Irene se aproxima do progressista Andrea Casatti. Convidado por ele, ela visita um bairro miserável, onde auxilia no tratamento de uma das seis crianças filhas de Passerotto (Masina), acompanha e apoia os últimos momentos da prostituta Ines (Pellati), ao mesmo tempo intervindo na sorte de um jovem assassino perseguido pela polícia, orientando para que fuja. Pelo último ato, chama atenção da polícia e é internada em um hospital psiquiátrico. Sua recusa a querer voltar a sua vida com o marido sela sua permanência no hospital, mesmo contra os clamores das pessoas que foram ajudadas por ela.
Talvez o que mais incomode nesse filme, bastante destratado pela crítica italiana quando de seu lançamento, seja a inconvincente camisa de força que parece tornar a sucessão de eventos um tanto quanto esquemática para servir aos propósitos de seu realizador de apresentar uma “tomada de consciência” (recorrente nos filmes que Rossellini realizou com a sua então esposa Bergman) dos males do mundo, para quem se encontrava cega, na sua limitada vida de intimidade burguesa. Trata-se justamente de um esquematismo que o realizador soube bem driblar na maior parte de suas obras. Ainda que existam algumas referências políticas isoladas, como a que Andrea Casatti faz a um 1947 que parece distante, sendo as utopias progressistas rapidamente solapadas pelo pragmatismo político-econômico, o filme todo segue de perto os códigos do melodrama. Com relação a sua influência melodramática, não falta sequer o reconhecimento final dos que foram tocados pela “graça” de Irene, cujo desconforto com o mundo não apenas antecipa as crises existenciais das personagens femininas de Antonioni, elaboradas de forma mais sofisticada – ainda que um filme realizado no ano seguinte, Viagem à Itália, seja bem mais próximo de Antonioni – e da protagonista de Lars Von Trier em Ondas do Destino, quando parece indicar que a compreensão das injustiças do mundo só pode ocorrer através da lucidez provocada pela alienação radical dos códigos sociais instituídos, representado aqui pela reação de sua protagonista. É bastante sintomático que tal impulso se dê a partir de membros da elite e não dos próprios excluídos das benesses sociais, aproximando-se por essa via do progressismo de esquerda que influenciaria o surgimento do Cinema Novo brasileiro. Por outro lado a figura de santidade numa realidade contemporânea, que já havia sido encarnada por Magnani em O Amor (1948) seria explicitada de vez pelo realizador, mesmo que numa moldura histórica,  em Joana D’Arc (1954), também com Bergman. Ponti-De Laurentiis Cinematografica.  113 minutos.

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