Filme do Dia: Delírio de Amor (1971), Ken Russell
Delírio de Amor (The Music
Lovers, Reino Unido, 1971). Direção: Ken Russell. Rot. Adaptado: Melvyn
Bragg, a partir do livro Beloved Friends
de Catherine Drinker Bowen & Barbara von Meck. Fotografia: Douglas
Slocombe. Música: André Previn. Montagem: Michael Bradshell. Dir. de arte:
Natasha Kroll & Michael Knight. Figurinos: Shirley Russell.
Com: Richard Chamberlain, Glenda Jackson, Max Adrian, Christopher Gabble,
Kenneth Colley, Izabella Telezinska, Maureen Pryor, Sabina Maydelle.
Piotr Tchaikovsky (Chamberlain) é
considerado um compositor brilhante no círculo cultural da São Petersburgo,
porém sua vida (homo)ssexual desregrada prejudica sua fama, sendo suas
composições consideradas demasiado afeminadas por seu mentor, Nicholas
Rubinstein (Adrian). Então casado com Sasha (Maydelle), ele a abandonará pela
insaciável Nina Milyukova (Jackson). Atormentado pelos fantasmas da mãe e do
amigo homossexual Anton (Colley), que pretende evitar a todo custo para manter
as aparências de respeitabilidade, sucumbe a um colapso nervoso. Sua mulher,
que passa a viver como prostituta de luxo, sob a alcova da própria mãe (Pryor), é
confinada num asilo de loucos.
Era bem provável que Russell já
ansiasse com o dia que pudesse se libertar dos cânones comportados da biografia
de gênios musicais desde seu bem mais convencional documentário Elgar (1962). E é pena que conseguindo
ultrapassar as limitações impostas para aquele (tratava-se de um episódio para
uma série de televisão), tenha demonstrado que operava bem melhor dentro de
um modelo mais convencional de realização. Aqui, ainda bem mais que em Mulheres Apaixonadas (1969), procura
tirar partido de uma “leitura pop” do romantismo exacerbado e delirante com o
qual constrói a personalidade atormentada do compositor. Pode-se até afirmar
que seria uma opção estética de um equivalente cinematográfico da própria
eloquência musical de seu biografado, do mesmo modo que Crônica de Anna Magdalena Bach (1965) representaria o seu oposto,
em termos de uma composição cinematográfica fria e impessoal como a música de
Bach. Porém, a comparação soa leviana quando se tem como resultado o filme de
Russell, marcado por um histerismo vazio que parece transformar Tchaikovski num
astro de rock bissexual contemporâneo, histerismo esse que alcança seu zênite
na evocação visual da Sinfonia Patética do compositor. Fragmentado e mesclando
passado e presente, imaginação e fantasia alucinada o filme se aproxima menos
de um cinema que soube lidar de forma densa ou pelo menos virtuosa com tal opção
(como em Bergman, Tarkovski ou, para ficar num exemplo mais próximo do
realizador, Nicolas Roeg) do que da inconsequência e sensacionalismo visual que
seria maximizado em suas obras posteriores, antecipadoras da linguagem do
videoclipe. Talvez se torne um exercício insólito sua comparação com a versão
soviética da vida do compositor, pomposa e oficialesca, realizada dois anos
antes. Russ-Arts para United Artists. 123 minutos.
adorei sua resenha! vou postar em minha lista de filmes "baseado em História Real" - http://www.alecrimfilms.com.br/arquivos/plug1/plug-1-filmes-baseado-em-historia-real-e-documentarios
ResponderExcluirMuito obrigado...vou conferir em seu blog!! Volte sempre...
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