Filme do Dia: O Gabinete das Figuras de Cera (1924), Paul Leni & Leo Birinsky

O Gabinete das Figuras de Cera (Das Wachsfigurenkabinett, Alemanha, 1924). Direção: Paul Leni & Leo Birinsky. Rot. Original: Henrik Galeen. Fotografia: Helmar Lerski. Dir. de arte: Paul Leni. Figurinos: Ernst Stern. Com: Emil Jannings, Conrad Veidt, Werner Krauss, William Dieterle, Olga Belajeff, John Gottowt, Georg John, Ernst Legal.
Poeta (Dieterle) inventa narrativas a partir de três figuras de cera que encontra em uma feira de variedades, ao lado da atraente Eva (Belajeff). Na primeira Harun al Raschid (Jannings) é um irascível califa que se vê sexualmente atraído pela bela mulher (Belajeff) do padeiro Assad (Dieterle). Assad se predispõe a assassinar o Califa como prova de amor a mulher, enquanto o Califa se encontra justamente com sua esposa. Na segunda, Ivã, o Terrível (Veidt) vai a um casamento com o pai da noiva Eine Bojarin (Belajeff), não sem antes pedir para trocarem as vestimentas. No caminho, o tzar sofre um atentado, morrendo o pai da noiva, que estava caracterizado como tzar. Mesmo com toda a tragédia, Ivan pede que a festa continue e acaba transformando os noivos em seus prisioneiros. Porém, após ser alvo de uma nova tentativa de homicídio por conta do envenenador oficial da corte (Gottowt), o Tzar enlouquece. No terceiro, o poeta sonha que ele e Eva se tornam vítimas da perseguição de Jack, o Estripador (Krauss).
Esse filme, em grande parte tributário de O Gabinete do Dr. Caligari (1919), de Wiene, ironicamente é tido como o último produto do Caligarismo no cinema expessionista alemão. Apesar de reunir os mais notáveis atores vinculados ao movimento (e também o mais famoso ator alemão do período, Jannings), demonstra ser uma pálida sombra da inventividade de Caligari, sendo o último realizado provavelmente com bem menos recursos de produção. Aqui fica demonstrado o desgaste e o abuso de uma receita da qual já havia sido extraído tudo de interessante, ficando apenas o pretenso apelo do mercado para as estilizadas cenografias expressionistas, mais luxuosas e bem menos interessantes que as do filme de Wiene, apenas sugeridas e alguns momentos da carregada interpretação que também celebrizou a produção vinculada ao gênero. No primeiro episódio, acaba por ser predominante o tom de farsa em cima dos estereótipos orientais que propriamente uma atmosfera de terror, mais pronunciada no segundo episódio – embora em uma chave que parece já se aproximar mais da produção congênere americana que começava a ser produzida no período e justamente influenciada pelo cinema alemão. Já o terceiro episódio é completamente derrisório em sua tímida ilustração pouco criativa do sonho do protagonista. Um quarto episódio, Rinaldo, Rinaldini,  havia sido planejado, mas por falta de recursos não chegou a ser concretizado – talvez esse também tenha sido o motivo para o ritmo abrupto e toscamente estruturado do último episódio em comparação com os demais. Leni, já se utiliza amplamente da montagem enquanto elemento acentuador do suspense, demonstrando a enorme influência do cinema de Griffith, como na longa seqüência em que se enfatiza as diversas tentativas de Assad arrombar a porta da própria casa, enquanto a mulher se encontra com o Califa em seu interior. Não é demais ressaltar tampouco a morbidez que é característica da produção e que Kracauer irá associar como um prenúncio do Hitlerismo em seu célebre ensaio e a utilização de sobreimpressões para provocar o efeito fantasmático das personagens já anteriormente presente em filmes de Murnau e em A Morte Cansada (1921), de Lang, sendo até hoje efeito corrente. Neptune Film A.G. 83 minutos.

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