Filme do Dia: Misère au Borinage (1933), Joris Ivens & Henri Storck
Misère au Borinage (Bélgica, 1933). Direção: Joris
Ivens & Henri Storck. Rot. Original: Joris Ivens, Henri Storck, André
Thirifays & Pierre Vermeylen. Fotografia: Joris Ivens & Henri Storck.
Montagem: Helen van Dogen.
Esse documentário curto irremediavelmente suscita
comparações com o mais célebre contemporâneo dirigido por Buñuel, Terra Sem Pão.
Porém, ao contrário daquele, que também apresenta imagens chocantes da miséria
na Espanha, apresenta um estilo bastante distinto, com composições
relativamente rebuscadas e bela fotografia. A presença da imagem fotográfica,
enquanto registro, parece pairar ao longo do filme e não apenas na foto fixa
presente a determinado momento. E, mais importante em sua diferença com o filme
de Buñuel, o filme é marcadamente político, apresentando um quadro que
ultrapassa em muito as pobres famílias de uma comunidade mineira que aborda,
mas vinculando-as a própria racionalidade capitalista, que faz acumular
milhares de toneladas de hulha e derramar leite por conta da baixa dos preços,
enquanto os mineiros passam fome e frio além de submeterem a péssimas condições
de trabalho que provocaram mais de duas centenas de mortos em 1932.
Provavelmente realizado com poucos recursos, fazendo uso de cartelas e
destituído de banda sonora, o filme a determinado momento mais parece uma
reconstituição de alguns dos eventos que apresenta, tal a segurança com que
filma os mesmos como o conflito entre policiais e mineiros. À referência
explícita ao marxismo surge em determinado momento no qual uma manifestação dos
mineiros é capitaneada por um homem segurando um retrato de Marx. É impossível
tampouco não pensar numa provável influência de Eisenstein no corte breve e
mesmo ocasionalmente seco. Por outro lado, a adversidade apresentada na labuta
diária de mineiros e suas esposas de rostos sulcados, assim como as carências
vivenciadas por suas extensas proles pode sugerir uma aproximação com
Flaherty; porém nada mais distante, no
sentido de que aqui não existe qualquer romantização ou evocação de uma luta do
homem contra a natureza – a luta do homem aqui é contra o próprio homem que o
explora de forma demasiado voraz. Destaque para a recorrência de panorâmicas
descritivas. 36 minutos.
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