Filme do Dia: Electra Glide in Blue (1973), James William Guercio
Electra Glide in Blue (EUA, 1973). Direção: James William Guercio. Rot.
Original: Robert Boris, a partir do argumento dele próprio e de Rupert Hitzig.
Fotografia: Conrad L. Hall. Música: James William Guercio. Montagem: Jim Benson,
Gerald B. Greenberg & John F. Link.
Figurinos: Rita Riggs. Com: Robert Blake,
Billy Green Bush, Mitch Ryan, Jeannine Riley, Elisha Cook Jr., Royal Dano, Hawk
Wolinski, Peter Cetera, Terry Kath.
John Wintergreen
(Blake) é um policial rodoviário no Arizona sem muitas perspectivas de
crescimento na profissão e acompanhado pelo patrulheiro Zipper (Bush). A
situação muda de figura quando o velho Willy afirma que seu melhor amigo se
suicidou, tese contra a qual Wintergreen acertadamente se bate, pois logo o
médico legista comprovará que o amigo de Willy foi assassinado. Wintergreen é
então guindado ao posto de motorista do delegado Harve Pole (Ryan), para quem
“incompetência é a pior forma de corrupção.” Porém, seu sonho dura pouco tempo,
quando o delegado descobre que sua querida Jolene (Riley) se tornou amante de
Wintergreen.
Único filme de
Guercio, executivo do mundo da música, essa pequena jóia da breve fase do
cinema americano entre o final dos anos 1960 e meados da década seguinte que
ficou conhecida, por entre outros nomes, como New Hollywood, foi praticamente esquecido por público e crítica e,
de certo modo, ainda assim permanece mais de três décadas após. O filme não
parece realmente se encontrar interessado em se aproximar da narrativa criminal
e tampouco traz uma visão “de dentro” do personagem como no cinema autoral europeu.
Apresenta motivos que lembram o faroeste – as exuberante paisagens do deserto e
até mesmo ícones do gênero como o Monument Valley querido dos filmes de Ford,
que na verdade fica no estado de Utah – assim como revisita muitos dos
elementos do cinema noir e até mesmo
de séries televisivas. Porém, faz tudo de uma forma que se torna praticamente
irreconhecível e quase como uma evocação existencialista de seu talentoso porém
banal protagonista, numa versão plebéia e sanchesca dos burgueses de Antonioni.
Mesmo que aqui nada possa ser mais diferente dos filmes do cineasta italiano,
sendo tal “perspectiva existencial” construída inteiramente pelo próprio ritmo
do filme. Não deixa de ser irônico que a aventura sobre rodas aqui e o ponto de
identificação do filme seja justamente com os homens da lei que eram motivo de ojeriza dos filmes mais
afinados com o espírito de contra-cultura da época e que entre seus exercícios
de tiro Wintergreen mire justamente na dupla de Sem Destino, que o filme de certa forma ironiza ao deslocar seu
eixo para um mundo bem mais trivial, mesquinho e preocupado com a própria
sobrevivência. Blake, ator cuja carreira era mais identificada com a TV e antes
com um cinema hollywoodiano clássico, vive um “looser” sem precisar explicitá-lo
tão fortemente como alguns personagens de Huston, tais como o de Cidade das Ilusões (1972), que rende
alguns paralelos que vão além da fotografia, aqui exuberante, do mesmo Conrad
Hall. Seu Wintergreen geralmente soa menos trágico do que cômico e infantilizado
– sensação acentuada quando se encontra ao lado da figura de autoridade, quase
paternal de Pole, como no momento em que timidamente procura informações na
comunidade hippie sendo observado por
aquele. Destaque para o seu belo e longo travelling
final ao som da não menos bela
composição Tell Me, escrita pelo
próprio Guercio. Seu final, evidentemente, é igualmente uma referência ao
célebre filme de Hopper, sendo que os hippies
agora de vítima se transformaram em matadores.
Sua veia irônica, mesmo que menos escrachada, sobretudo na abordagem de
seus personagens, deve ter influenciado os Coens de Onde os Fracos Não Tem Vez. Guercio-Hitzig para United Artists. 114
minutos
Olá! Ao procurar o filme no Google encontrei o seu blog. Meu pai era distribuidor de filmes de cinema e distribuiu muito esse filme pelo Brasil quando aqui foi lançado. Abraços.
ResponderExcluirPoxa, que bacana!! Gosto bastante deste filme, e é tão pouco conhecido. Abraços.
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