Filme do Dia: Vida de Artista (1960), Tony Richardson

Vida de Artista (The Entertainer, 1960, Reino Unido). Direção: Tony Richardson. Rot. Adaptado: Nigel Kneale, baseado na peça de John Osborne. Fotografia: Oswald Morris. Música: John Addison. Montagem: Alan Osbiston. Dir. de arte: Ralph W. Brinton. Figurinos: Jocelyn Rickards.  Com: Laurence Olivier, Joan Plowright, Brenda De Banzie, Roger Livesay, Alan Bates, Daniel Massey, Albert Finney, Shirley Anne Field.
Jean (Plowright) volta a se aproximar da família de seu pai, o artista de vaudeville decadente Archie Rice (Olivier), sua esposa alcoólatra Phoebe (De Banzie) e os meio-irmãos Frank (Bates) e Mick (Finney). Enquanto Archie envolve-se com uma jovem que conhecera no concurso de miss e que sonha com a glória no teatro, Tina Lapford (Field), visando igualmente o apoio financeiro dos pais de Tina para sua nova produção, o filho Mick é capturado na Guerra do Egito. Porém o sopro de esperança aceso com a promessa de uma nova produção garantida e da libertação do filho anunciada pela imprensa logo se esboroa, quando o pai de Archie, Billy (Livesay), ao saber de tudo, acaba revelando a verdade à família Lapford e o filho acaba sendo morto. Ironicamente, Billy, que acabara tornando-se a última esperança de Archie, já que um empresário resolve montar um espetáculo com ele, em memória de seus tempos de glória, acaba não resistindo e falecendo pouco antes de entrar no palco.
Embora contando com todos os ingredientes que tornaram célebre o realismo social de Richardson, presentes já no seu filme anterior, Odeio Essa Mulher,  tendo como fonte igualmente um texto de Osborne, como a mescla entre conflitos pessoais e sociais mais extensos, personagens decadentes, dependência do texto teatral e interpretações brilhantes, essa segunda adaptação ressente-se ainda mais de um pessimismo quase crônico, como se a vida dos menos favorecidos economicamente fosse uma sucessão somente de tragédias. Nesse sentido seu Um Gosto de Mel consegue um retrato não só mais nuançado e complexo como igualmente mais verossímil, menos previsível e mais plenamente cinematográfico, ao se tornar menos dependente do texto teatral. Igualmente a Odeio Essa Mulher, ressalta-se uma Inglaterra dividida entre dois descontentamentos: os conservadores que se angustiam com o declínio do Império Britânico e sua influência global e os progressistas que se inquietam com a falta de perspectivas para crescimento numa sociedade que não lhe oferece maiores oportunidades. A utopia para todos os descontentes parece ser a perspectiva de abandonar o país: o namorado de Jean sonha em ir para a África; Phoebe acredita, e acaba fazendo com que Frank acredite, que tudo se resolverá no Canadá. Ou então apenas mecanicamente não afetar exteriormente o seu próprio desespero, como Archie que, num dos momentos mais tocantes do filme, afirma que, como boa parte de sua platéia, já se encontra morto há muito tempo e ironiza com a possibilidade de ir para o Canadá, já que lá não possui sua cerveja favorita. Como retrato de decadência familiar, ainda que longe da mesma densidade existencial, pode ser traçado um paralelo com a adaptação ainda mais radicalmente teatral de Longa Jornada Noite Adentro (1962), dirigida por Lumet. A peça de Osborne foi novamente adaptada, para a televisão americana, em 1976, com Jack Lemmon no papel de Archie, que já fora vivido por Olivier nos palcos antes do filme. Woodfall Film Productions. 96 minutos.


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