Paixão da Igualdade, Paixão da Liberdade: A Amizade em Montaigne, Sérgio Cardoso
O belíssimo capítulo final dos Ensaios (...), manifesta mais nitidamente aqui que qualquer outro o sentido e o alcance dessa "inconstância": "Quem se lembra - diz - de ter sido tantas e tantas vezes enganado por seu próprio juízo, não seria um tolo se não desconfiasse dele para sempre? Quando me convenço pelos argumentos de outro de que minha opinião é falsa, não aprendo tanto o que ele me diz de novo e esta particular ignorância - seria uma aquisição bem pequena - mas aprendo minha fragilidade e a traição do meu entendimento, do que tiro a necessidade da reconsideração de tudo (...). Saber que se disse ou se fez uma tolice não é nada, é preciso aprender que somos tolos, pois esse ensinamento é bem mais amplo e importante.
(...)
Montaigne opõe, portanto, a esta suficiência e arrogância a penúria e fragilidade de seu espírito errante, que vaga e extravaga, interroga e se ensaia, experimenta e fantasia. "Sem se prender a nada", como o de Perseu. Nenhum ponto fixo, nenhuma referência certa, derivando "sans règles (...) et à tastons." Assim seu apoio está apenas na sua própria atividade, sua adesão a si tão-somente no fio tênue e delicado do exercício da interrogação. Porém, podemos constatar que nesta fragilidade está também sua força; pois, se a nada se submete, encena sua autonomia e delimita, então, um espaço verdadeiramente humano: o mundo do cultivo e das culturas, forjado por este ativo desejo de liberdade que tanto aborrece à natureza e à religião.
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Montaigne opõe, portanto, a esta suficiência e arrogância a penúria e fragilidade de seu espírito errante, que vaga e extravaga, interroga e se ensaia, experimenta e fantasia. "Sem se prender a nada", como o de Perseu. Nenhum ponto fixo, nenhuma referência certa, derivando "sans règles (...) et à tastons." Assim seu apoio está apenas na sua própria atividade, sua adesão a si tão-somente no fio tênue e delicado do exercício da interrogação. Porém, podemos constatar que nesta fragilidade está também sua força; pois, se a nada se submete, encena sua autonomia e delimita, então, um espaço verdadeiramente humano: o mundo do cultivo e das culturas, forjado por este ativo desejo de liberdade que tanto aborrece à natureza e à religião.
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