Filme do Dia: A Diary for Timothy (1945), de Humphrey Jennings
A Diary for Timothy (Reino Unido, 1945). Direção: Humphrey Jennings. Rot. Original: E.M.
Forster. Fotografia:
Fred Gamage. Música: Richard Addinsell.
Até mesmo em um gênero tão insípido como o
do filme de propaganda os britânicos tentaram aplicar uma coloração humanista
mais do que de apenas explícita propaganda. Jennings e sua equipe o fizeram
através do recurso de apresentar fatos, dados e expectativas sobre o futuro a
partir do prisma de um diário visual para o infante Timothy, nascido em
setembro de 1944. A música atenua parcialmente a postura empertigada e pomposa,
algo ainda mais ressaltada por se lidar com “atores naturais”, ao contrário do
naturalismo que se extraiu de postura semelhante nos filmes neo-realistas
contemporâneos. Como a maior parte dos documentários britânicos de guerra se
evita o melodrama, embora certos momentos sejam de evidente manipulação
emocional, como o do canto natalino sobre a imagem em close do pequeno e
inocente bebê, alheio a todas as vitórias e vicissitudes que ocorrem ao seu
redor. O fato de se tratar de um filme encenado, mesmo que seja uma elegante e
inteligente forma de não apenas trazer informação e reflexão em um modo
evidentemente mais próximo do maior apelo do cinema ficcional, por outro lado
corrobora para certo tom empostado que Jennings não havia tido que lidar com o
mais interessante Listen to Britain.
Mesmo que a presença da guerra aqui possa ser sentida de modo bem mais sólido, e não poderia ser
diferente, no sentido de que aqui a situação da Inglaterra na guerra já é bem
mais complexa e envolve bem maiores perdas materiais e humanas, nunca se apela
para a xenofobia ou mesmo para imagens detratoras do inimigo tais como as
presentes na série Why We Fight
norte-americana, chegando a narração (efetuada por Michael Redgrave) acentuar
mesmo que a peça apresentada no recital da pianista Myra Hess (também presente
em Listen to Britain e em
documentário com seu nome e igualmente dirigido por Jennings) tenha sido
composta por um compositor alemão, Beethoven. Aliás, como no filme, à arte é
reservado um destaque especial, também sendo apresentada uma montagem de Hamlet protagonizada por John Gielgud,
demonstrando que mesmo em tempos mais sombrios do que os apresentados no
documentário anterior, os britânicos não
deixaram de cultuar a arte; e para o inusitado momento no qual o próprio
Jennings apresenta para um grupo de crianças cenas de seu documentário English Harvest (1938). A montagem por
associação e a narração que procuram
relacionar o drama particular com os eventos sociais mais amplos é
relativamente bem resolvida. Finaliza com uma eloqüente (e um tanto pesada)
indagação ao bebê e outros bebês se irão seguir o mesmo caminha de
ganância material escolhido pela Alemanha que resultou na sua situação de
depressão econômica ou escolherão outros valores. Escrito por E.M. Forster.
Crown Film Unit. 40 minutos.
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