Filme do Dia: Alfa Tau! (1942), Francesco De Robertis

Alfa Tau! (Itália, 1942). Direção e Rot. Original: Francesco De Robertis, a partir de seu argumento. Fotografia: Giuseppe Caracciolo. Música: Edgardo Carducci. Montagem: Francesco De Robertis. Com: Giuseppe Addobbati, Marina Chierici, Liana Persi, Lilla Pilucolio.
Membros da marinha italiana são liberados para um final de semana de descanso até a próxima missão no submarino que trabalham. O comandante do submarino acaba se envolvendo com uma mulher, Lidia, a quem se despede na estação ferroviária para voltar a assumir suas obrigações.
É evidente a influência do cinema de montagem soviético no ritmo alucinante dos planos ainda que, quando comparado com La Nave Bianca, de Rossellini e do próprio De Robertis, tal influência pareça ainda mais convencional e menos expressiva. Também atuando com atores amadores e locações reais (De Robertis, mais maduro, é considerado como mentor de Rossellini), assim como uma narrativa que não privilegia exatamente um personagem principal, mas antes um extenso grupo de personagens, é surpreendente o quanto o resultado do filme seja extremamente convencional. Certamente isso se deve, em grande medida, ao filme se deslocar da clausura do ambiente de trabalho para o lazer na maior parte de sua duração. De Robertis aproveita então para entabular cacoetes de comédia e uma história de amor, inconvincentes e clichês, já que distantes da maestria de realizadores versados no gênero como Mario Camerini ou o próprio De Robertis (no mais soturno Gente dell’Aria). O choque desse universo, tão escapista a seu modo quando os chamados “dramas do telefone branco” produzidos à época com os dramas da guerra como bombardeios e o terror da população civil e a própria seqüência bélica da batalha do submarino com o submarino inglês acabam construindo uma certa hibridez monstruosa. Ainda que sem dúvida o caráter de propaganda seja indiscutivelmente mais explícito do que as outras produções de guerra contemporâneas, algo perceptível quando comparado sobretudo ao filme também dirigido por Rossellini, como é o caso das fotos de Mussolini e Hitler, do próprio bordão-título em associação com a saudação fascista em inúmeros momentos, nem aqui ela pode ser concebida como irrestrita. A determinado momento, ainda que involuntariamente, o filme parece ironizar de modo galhofeiro quando, já próximo do final, um dos marinheiros é interrompido em sua farolice sobre o evento vitorioso contra a Inglaterra pela água da banheira que começa a derramar, banheira que parece selar os limites da monumentalidade bélica ao surgir num plano que justamente segue o de um tanque em que afunda a réplica do que seria o submarino inimigo. Do mesmo modo, a figura domesticada, infantil ou maternal, de mulher que é bastante presente na maior parte dos filmes do ciclo de guerra  (La Nave Bianca, I 3 Aquilotti), aqui demonstra ser de uma paixão francamente sexualizada, como no momento em que Lidia literalmente invade o aposento vizinho do comandante. E ainda, certamente um tanto involuntariamente, o filme não deixa de ressaltar as brutais diferenças de classe refletidas, de forma a servirem como momento cômico, entre o luxo do local em que os oficiais irão degustar suas refeições e sua refinada saudação a chegada de um colega e o contraponto do modo como os anônimos marinheiros se acotovelam para comerem em suas marmitas, assim como cumprimentam seus colegas.  De todo modo, cumpre ressaltar que justamente o efeito estético-dramático mais interessante alcançado por Rossellini, ainda que ocasionalmente, em sua trilogia, aqui acaba soçobrando na mesma ou ainda pior artificialidade dos filmes escapistas do período e até mesmo o descentramento dos personagens parece mais próximo de filmes hollywoodianos que acompanham diversos personagens (na esteira do célebre Grande Hotel, do início da década anterior) que da trilogia de Rossellini. Centro Cinematografico del Ministero della Marina/Scalera Film S.p.a para Scalera Film S.p.a. 90 minutos.


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