Filme do Dia: "O Príncipe Estudante" (1927), Ernst Lubitsch
O Príncipe Estudante (The Student
Prince in Old Heildelberg, EUA, 1927). Direção: Ernst Lubitsch. Rot.
Adaptado: Marian Ainslee, Ruth Cummings & Hanns Kräly, baseado na peça de
Wilhelm Meyer-Förster, Old Heidelberg.
Fotografia: John J. Mescall. Música: William Axt & David Mendonza.
Montagem: Andrew Barton. Cenografia: Richard Day & Cedric Gibbons. Com:
Ramón Novarro, Norma Shearer, Jean Hersholt, Gustav von Seyffertitz, Philippe
De Lacy, Edgar Norton, Bobby Mack, Edward Connelly.
Príncipe Karl
Heinrich (De Lacy) é apresentado ainda criança e assustado às ávidas multidões
que querem conhecer seu futuro regente. Sendo mimado e criado afastado do mundo
real, quando jovem (Navarro), parte para Heildelberg com seu liberal preceptor,
Dr. Friedrich (Hersholt). Lá rapidamente se apaixona por uma moça pobre que
trabalha na humilde estalagem na qual fica hospedado, Kathi (Shearer). Porém o
amor de ambos é posto à prova quando o pai de Karl, Karl VII (Seyffertitz), faz
com que ele prometa em seu leito de morte que casará com a prometida,
participante de uma linhagem igualmente monárquica. Tanto o pai como Friedrich
morrem. Prestes a casar, Karl volta a Heildelberg, para se encontrar uma última
vez com sua amada Kathi. Segue então com os procedimentos para o casamento.
Esse filme pouco
conhecido de Lubitsch possui uma força inexistente em seus mais louvados e
conhecidos filmes sonoros e em boa parte de sua produção anterior ainda na
Alemanha. Tal força advém sobretudo da impressionante fluidez de sua câmera,
apresentando um estilo visual condizente com o auge da maturidade do cinema
mudo e, sobretudo, de seu tocante conto de amor agridoce de final infeliz, à
seu modo tão expressivo quanto, por exemplo, a revisão desse amor romântico não
concretizado por Demy em Os
Guarda-Chuvas do Amor (1964). São fundamentais para a eficiência do
anti-clímax final o modo surpreendentemente pouco cínico com que Lubitsch
apresenta seus personagens. Mesmo caindo o risco de ser apreciado apenas como
um mero exercício de dramaturgia folhetinesca das mais improváveis, sobretudo
na sua carregada e batida contraposição entre os valores vitais associados com
os personagens populares e a hipocrisia e a secura emocional da aristocracia o
filme, como bom melodrama que se preze – sobretudo da metade para o final – acaba
fazendo uso de tais clichês para construir uma tocante representação da
passagem do universo dos sentimentos mais puros, vibrantes e espontâneos para o
da formalidade e convenção. O modo mecânico como Karl simplesmente troca de
cartola pelo quepe de estudante ao chegar em Heidelberg e vice-versa ao
retornar ao castelo trai a sua problemática divisão entre dois mundos
completamente diversos mais que uma expressão de dupla moral ou hipocrisia.
Ciente do foco de seu drama, o filme apresenta brilhantemente no plano final do
coche de casamento desfilando pelas ruas
após a cerimônia somente Karl (a noiva é entrevista de longe).
Maliciosamente Lubitsch acrescenta um plano de um casal comentando sobre as
facilidades da vida de um rei, nota que vem acentuar a discrepância entre a
máscara social – o rosto polido de Karl acenando para a multidão de dentro da
carruagem – e seus efetivos sentimentos. Novarro, peça fundamental para o
sucesso do filme, tornar-se-ia um galã quase tão popular quanto Rudolf Valentino,
mas entraria rapidamente em declínio com a introdução do cinema sonoro e
morreria assassinado em sua casa em 1968.
Destaque para as transições que representam as fantasias de Karl,
efetivadas de modo mais sutil que o habitual pelo cinema clássico, ao menos o
posterior a esse momento, provocando um efeito de ambivalência em um primeiro instante
– o de Karl e Kathi na corrida. Edgar G. Ulmer teve participação não creditada
como cenógrafo e John M. Stahl como diretor. MGM. 106 minutos.
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