Postagens

Cristiano Burlan, um relato de vida – 3

Imagem
JC – Você chegou a essa situação? CB – Cheguei, me senti um lixo. Outra vez, foi quando agredi um garoto na escola, ele quebrou o nariz, saiu sangue, isso me machucou muito. Outra vez, ver uma pessoa congelada, apavorada, quando você aponta a arma para ela. Eu acho que é um clic, você tem medo de matar alguém, você não tem coragem e de repente você mata e isso vira um hábito. JC – Essas ações ocorriam onde? CB – Itaim, boutique, padaria, essas coisas. Várias vezes eu quase morri, isso para não dizer que vi o Diabo três vezes na minha frente e mandei um dedão pra ele. Mas eu não tenho orgulho disso, eu queria não ter passado por essas histórias. É tão pesado, tão trágico e dolorido o que aconteceu comigo, com minha família e com meus amigos, que para mim parece que é uma ficção, barata até, muito inventada. Se eu fizesse um documentário contando minha história realmente, as pessoas iam achar que sou louco, que parece um romance. JC – Dá um exemplo. CB – Esse exe
Imagem

Filme do Dia: As Bruxas (1967), Luchino Visconti, Mauro Bolognini, Pier Paolo Pasolini, Franco Rossi & Vittorio De Sica

Imagem
As Bruxas (Le Streghe, Itália/França, 1967). Direção: Luchino Visconti, Mauro Bolognini, Pier Paolo Pasolini, Franco Rossi & Vittorio De Sica. Rot. Original: Cesare Zavattini & Guiseppe Patroni Griffi (La Strega Bruciata Viva), Mauro Bolognini, Agenore Incrocci, Furio Scarpelli & Bernardino Zapponi (Senso Civico), Roberto Gianviti, Pier Paolo Pasolini (La Terra Vista dalla Luna), Luigi Magni & Franco Rossi (La Siciliana), Fabio Carpi, Enzo Musi & Cesare Zavattini (Una Sera Como la Altre). Fotografia: Guiseppe Rotunno. Música: Ennio Morricone & Piero Piccioni. Montagem: Nino Baragli (Senso Civico, La Terra Vista dalla Luna), Adriana Novelli (Una Sera Come le Altre), Mario Serandrei (La Strega Bruciata Viva), Giorgio Serrallonga (La Siciliana). Dir. De arte: Mario Garbuglia & Piero Poletto. Figurinos: Piero Tosi. Com: Silvana Mangano, Annie Girardot, Francisco Rabal, Massimo Girotti, Clara Calamai, Nora Ricci, Helmut Berger, Bruno Filippini, Leslie French,

Caminho da Manhã

Vais pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze. À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada. Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos não dão nenhuma sombra. E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas. Passa debaixo da porta e vai pelas pequenas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco da cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás nenhuma sombra; abriga-te por

Janis Joplin - Try (Just A Little Bit Harder) (1969) Frankfurt, Germany

The Beatles- 04- Everybody's Got Something To Hide Except Me And My Monk...

Devilish Audacity - Philip Ziegler’s ‘Olivier’

Imagem
Not so long ago, giants bestrode the British boards. In that theatrically golden 20th century, the stage could boast those wonderful knights, Sirs John Gielgud, Laurence Olivier, Michael Redgrave and Ralph Richardson. Close on their heels were Alec Guinness, John Mills, Paul Scofield, Trevor Howard and Peter O’Toole, among others. And all along there was that chameleon of genius, Noël Coward. Still, the star that probably shone brightest in that constellation, the only one who was raised to baron, was Laurence Olivier (1907-89): matinee idol, movie star, gifted director and producer, in the end even a hologram, easily attaining posthumous immortality. Since boyhood he had wanted to be “the greatest actor in the world ,” and damned if he did not achieve it, with some help from Shakespeare and the movies. Not only was he the most dashing of actors, he was also the most seductive of human beings, tantrums notwithstanding. That fine actress Rosemary Harris remarked: “I

Cristiano Burlan, um relato de vida – 2

Imagem
JC – Volte ao Capão, essa história da escola, como foi? CB – Primeiro que as escolas na periferia têm sempre muitas grades e portões, quando você entra, as portas vão se fechando atrás de você. Quando pela primeira vez eu fui visitar meu irmão numa cadeia em São Paulo, eu tive a mesma sensação que tinha quando entrava na escola. Uma escola na periferia é sempre cinza, concreto, não tem cor nenhuma e parece que você está entrando numa cadeia. Não tem biblioteca nas escolas públicas, sempre tem alguns livros ali, restos que chegam, pelo menos na minha época, hoje não sei. Os professores iam ensinar meio forçados e não tinham interesse pelos alunos. Os alunos também não tinham interesse pelos professores. Assim pouca gente consegue se interessar pelos estudos. Muito cedo comecei a me interessar por literatura, música, teatro, cinema, por cinema principalmente, aí comecei a atravessar o rio para ir a Santo Amaro. JC – Isso revela que você tem energia, isso não vem do seu

Filme do Dia: Sede de Viver (1956), Vincente Minnelli

Imagem
Sede de Viver (Lust for Life, EUA, 1956). Direção: Vincente Minnelli. Rot. Adaptado: Norman Corwin, baseado no romance de Irving Stone. Fotografia: Russell Harlan & Freddie Young. Música: Miklós Rózsa. Montagem: Adrienne Fazan. Dir. de Arte: F. Keogh Gleason & Edwin B. Willis. Com: Kirk Douglas , Anthony Quinn, James Donald, Pamela Brown, Everett Sloane, Niall MacGinnis, Henry Daniell, Madge Kennedy, Lionel Jeffries, Jeanette Sterke, Toni Gerry. .      Vivendo em uma sociedade puritana e muito atenta às aparências, Van Gogh (Douglas), passa a ser alvo dos comentários da vizinhança por sua reclusão, anti-sociabilidade e modo de vestir rude. Ele, porém, não se importa, e passa o dia pintando os trabalhadores das redondezas, um motivo que afirma ninguém antes se interessara. Embora acredite em Deus, suas convicções são antes íntimas que clericais, para desgosto de seu pai, o pastor Theodorus (Daniell). Apaixona-se pela prima Kay (Sterke), viúva e com filho pequeno

Ah, um Soneto

Meu coração é um almirante louco que abandonou a profissão do mar e que a vai relembrando pouco a pouco em casa a passear, a passear ... No movimento (eu mesmo me desloco nesta cadeira, só de o imaginar) o mar abandonado fica em foco nos músculos cansados de parar. Há saudades nas pernas e nos braços. Há saudades no cérebro por fora. Há grandes raivas feitas de cansaços. Mas — esta é boa! — era do coração que eu falava... e onde diabo estou eu agora com almirante em vez de sensação? ... (como Álvaro de Campos)

A Hard Rains Gonna Fall {Live at Town Hall 1963} - Elston Gunn

Cristiano Burlan, um relato de vida – 1

Imagem
Entrevista realizada dia 30/01/14 na minha casa. Moro no Copan. Uma primeira tentativa feita na véspera não tinha funcionado por motivos ténicos. JC – Continuemos, a pergunta inicial é essa , você nasceu, onde, em que família? CB - Nasci em Porto Alegre em 1975, dia 21 de agosto, numa família de proletários da zona norte num bairro chamado Sarandi. Sou primogênito de uma família de 5 filhos, meu pai se chamava Vânio e minha mãe Isabel. Meu pai já faleceu e minha mãe também e um dos meus irmãos, Rafael, também morreu. Agora de uma família de sete somos em 4. JC – Como era a vida em Porto Alegre? CB - Sempre foi dura. Minha mãe era empregada doméstica e meu pai pedreiro, fazia serviços gerais. Muito cedo foi vitimado pelo alcoolismo e isso o tornou uma pessoa violenta e dura. JC – Ele batia na sua mãe? CB - É, um pouco sim, bastante na verdade. Mas ela reagia, porque ele era menor que ela, ele era baixinho e ela, uma mulher alta, então a porrada comia solta, de
Como no romance, a história seleciona, simplifica, organiza, faz com que um século caiba em uma página. Paul Veyne

Filme do Dia: Febbre di Vivere (1953), Claudio Gora

Febbre di Vivere (Itália, 1953). Direção: Claudio Gora. Rot. Original: Susu Cecchi D’Amico, Luigi Filippo D’Amico, Claudio Gora, Lamberto Santilli & Leopoldo Trieste. Fotografia: Enzo Serafin & Oberdan Troiani. Música: Valentino Bucchi. Montagem: Mariano Arditi. Dir. de arte: Saverio D’Eugenio & Saverio D’Ameglio. Cenografia: Saverio D’Ameglio. Figurinos: Maria Di Bari. Com: Massimo Serato, Marina Berti, Anna-Maria Ferrero, Marcello Mastroianni , Sandro Milani, Nyta Dover, Rubi D’Alma, Vittorio Caprioli.       Massimo (Serato) é a figura central de um grupo de jovens ricos e amorais. Elena (Ferrero), sua garota, o ama apaixonadamente, mas ele não sente nenhum escrúpulo em traí-la. Daniele (Mastroianni), que foi preso após uma traição de Massimo, procura ajustar suas contas com ele, mas é manipulado por esse. Ele convence um jovem amigo, Sandro (Milani) a se fazer passar por amante de Elena. Massimo pretende que ela faça aborto. Quando todos sabem que foram enganados por
Dear Mother: I have written this to tell you my worrying secret. Now don't cry when you read it because it is neither yours nor my fault. I suppose I will have to tell it now without any nonsense. To begin with I was not meant to be an athlet [ sic ]. I was meant to be a composer, and will be I'm sure. I'll ask you one more thing.—Don't ask me to try to forget this unpleasant thing and go play football.— Please —Sometimes I've been worrying about this so much that it makes me mad. Samuel Barber

Long Distance Runaround by Yes in 1080p HD

Johannes Brahms - Symphony No. 4 in E minor, Op. 98

Cristiano Burlan, os dois olhares – 2

Imagem
Esta segunda entrevista com Cristiano Burlan foi feita em 9.5.2014. O ator Henrique Zanoni estava presente. A primeira entrevista foi postada nesse blog em 20.2.2014. JC – Vamos retomar os dois olhares de que você falou na entrevista anterior? CB – Os dois olhares? Não me lembro. JC – Estranho você não se lembrar, eu achei marcante. É o seguinte: um olhar do lado de cá e um olhar do lado de lá do rio. CB – Lembro. JC – O que são esses dois olhares? CB – Mesmo tendo consciência de ter passado por esses dois olhares, o meu olhar agora é sempre o olhar de fora. JC – Ah bom! CB – Por mais que eu tenha nascido no Capão Redondo e tenha consciência, hoje a perspectiva é diferente. Eu não consigo me colocar na perspectiva do outro. JC – Quem é o outro agora? CB – O que mora do outro lado do rio. JC – No Capão Redondo? CB – Aquele que é explorado pela minha câmera e de outras pessoas, aquele que é objeto de estudo. Por mais que eu tente, nunca vou conseguir