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Adriana Calcanhotto - Vambora

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"dentro de um livro...dentro da noite veloz."

Filme do Dia: Ceddo (1977), Ousmane Sembene

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Ceddo (Senegal, 1977). Direção e Rot.Original: Ousmane Sembene. Fotografia: Georges Caristan. Música: Manu Dibango. Montagem: Florence Eymon. Com: Tabata Ndiaye, Moustapha Yade, Ismaila Diagne, Matoura Dia, Omar Gueye, Mamadou Dioumé, Makhouredia Gouye, Nar Modou, Ousmane Camara.          O rei dos Ceddo (Dia) faz um pacto com os muçulmanos, para o desagrado de boa parte de seus súditos, que sequestram  sua filha, a Princesa Dior (Ndiaye). Alguns pretendentes ao trono tentam libertar a princesa e são mortos. Enquanto isso, o Imã (Gueye) converte toda a tribo ao islamismo, batizando-os com nomes islâmicos, após aparentemente ter assassinado o rei. Algumas lideranças vão atrás de Dior, e essa retorna a aldeia assassinando o Imã, na frente de todos.         Sembene, pioneiro do cinema africano, investe em uma dramaturgia de contornos quase épico-teatrais, em que a fala ganha sempre uma dimensão que ultrapassa a individual, e os silêncios, por vezes de vários minutos (os primei

Filme do Dia: Salomé (2002), Carlos Saura

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Salomé (Espanha, 2002). Direção e Rot. Original: Carlos Saura. Fotografia: Teo Delgado & José Luis Lopes-Linares. Montagem: Julia Juaniz. Dir. de arte: Carlos Saura. Figurinos: Pedro Moreno. Com: Aída Gómez, Peré Arquillué, Peco Mora, Carmen Villena, Javier Toca.         O ensaio-geral da montagem da famosa história bíblica de Salomé para o universo da dança. Salomé (Gómez), que é objeto do desejo do Rei Herodes (Peco Mora) se apaixona por João Batista (Javier Toca), que a rejeita. Como vingança, Salomé casa com o Rei, com a condição que ele corte a cabeça de João Batista. Ele o faz, mas Salomé demonstra todo seu amor pelo morto, provocando a ira de Herodes, que também manda matá-la.         Cada vez mais Saura vem depurando seus filmes de tudo o mais que não seja a dança e seus elementos cenográficos e dramáticos.  Enquanto em Tango , era o universo da famosa música nacional argentina que era privilegiada, aqui é sobretudo a dança flamenca (que já foi objeto dos filmes qu

Filme do Dia: Le Voleur de Paratonnerres (1944), Paul Grimault

Le Voleur de Paratonnerres (França, 1944). Direção: Paul Grimault. Rot. Original:  Maurice Blondeau & Paul Grimault, a partir de uma idéia de Jean Aurenche. Fotografia: Roger Desormière & Jean Wiener. A mesma dupla, garoto e cachorro do mais interessante Les Passagers de la Grande Ourse ,surge aqui como misteriosas figuras da noite. Para além do seu já conhecido e notável uso da cor, o que sobressai nesse curta é o tom atmosférico e sombrio que acompanha o garoto mascarado pelos telhados da cidade, seguido de perto por uma dupla atrapalhada de agentes da lei. Grimault é mestre em situações absurdas, como as que acompanham a embasbacada dupla detetivesca observar um osso que saltita sozinho e solitário pelo telhado e não se encontra nenhum pouco interessado em apresentar uma história com começo, meio e fim bem definidos o que o aproxima da animação moderna, sem a necessidade de um hermetismo que afaste o grande público – nessas características, assim como no seu pendor já ref

Filme do Dia: Rio Doce/CDU (2013), Adelina Pontual

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Rio Doce/CDU (Brasil, 2013). Direção: Adelina Pontual. Documentário que parte do pretexto da linha mais extensa a cobrir a região metropolitana do Recife para colher entrevistas de pessoas que trabalham ou se movimentam pelo percurso em questão. E mesmo de uma cobradora e alguns motoristas, que surgem muito brevemente. Amparado sobretudo pela saborosa prosa popular que emerge espontaneamente dos contatos – existe pouca presença de “personagens” da classe média – se ressente, sobretudo de uma recorrente dispersão, afastando-se por vezes demasiado de seu mote inicial, pretenso elo de ligação entre os depoentes. Em diversos momentos, apenas se ouve depoimentos sobre imagens colhidas em contextos outros. Existem efetivamente menos imagens internas que captadas a partir da carroceria externa do ônibus. Das falas emerge um pouco de tudo: de comentários sobre a precariedade da linha até as dificuldades de se conseguir pescar como tempos atrás passando por uma época em que a elite

Biografia Entrevista Antonio Calmon

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Muito boa essa entrevista com Antonio Calmon de um blog ótimo que não conhecia e já foi direto para a minha lista de favoritos... *** A ntonio Calmon dirigiu “Eu Matei Lúcio Flávio”. Se quisesse, poderia ter parado por aí e começado a tecer o véu da imortalidade. Afinal, criou a obra-prima do cinema policial brasileiro. Mas Calmon, garoto da selva amazônica (sim, você não leu errado), inventou de embolar o meio de campo, entregar o corpo aos homens da encruzilhada e cair de cabeça em uma odisseia pessoal, imprevisível.   Ex-cria do Cinema Novo, ex-aluno de Glauber Rocha, daí um salto para o “ underground  do  underground ” e um pulo para o  mainstream  de “Menino do Rio” e da TV Globo. No meio de tudo, o desbunde em Salvador, dezessete cáries, quinze quilos a menos, barbas e cabelos pornográficos. Entre pirados e dogmáticos, preferiu viver. Não à toa, hoje zomba da mortificação moralista do politicamente correto. Fala, ri, se diverte. Sobretudo, assume o que fala. Conta os

Filme do Dia: L'épouvantail (1943), Paul Grimault

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L’épouvantail (França, 1943). Direção: Paul Grimault. Rot. Original: Maurice Blondeau, Paul Grimault & Jean Aurenche. Música: Roger Desormière & Jean Wiener. O Espantalho que faz menção o título acoberta um casal de pássaros apaixonados das garras de um perigoso felino. Animação extremamente bem realizada e com uma qualidade técnica em nada devedora da Disney, inclusive em seu tom escapista. Justamente por conta do último, num momento em que a própria Disney havia sido engajada no esforço de guerra, e por se encontrar associada ao típico produto que as telas francesas de Ocupação exibiam, tem sido relativamente desconsiderada. Quem quiser, pode até enxergar uma fábula anti-ocupacionista na forma como o casal apaixonado é protegido pelo Espantalho, seu tradicional opositor no senso comum.  Ou mesmo o oposto. Talvez mais importante que isso seja a decepção inicial de qualquer expectativa modernista que seu prólogo, com os pássaros se enfiando no corpo de um espantalho ainda
Falha a fala. Fala a bala. Paulo Lins, Cidade de Deus .

Aubade

I work all day, and get half-drunk at night.  Waking at four to soundless dark, I stare.  In time the curtain-edges will grow light.  Till then I see what’s really always there:  Unresting death, a whole day nearer now,  Making all thought impossible but how  And where and when I shall myself die.  Arid interrogation: yet the dread  Of dying, and being dead,  Flashes afresh to hold and horrify.  The mind blanks at the glare. Not in remorse  —The good not done, the love not given, time  Torn off unused—nor wretchedly because  An only life can take so long to climb  Clear of its wrong beginnings, and may never;  But at the total emptiness for ever,  The sure extinction that we travel to  And shall be lost in always. Not to be here,  Not to be anywhere,  And soon; nothing more terrible, nothing more true.  This is a special way of being afraid  No trick dispels. Religion used to try,  That vast moth-eaten musical brocade  Created to pretend we never die,  And specious stuff that says No

Filme do Dia: Aruanda (1960), Linduarte Noronha

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Aruanda (Brasil, 1960). Direção e Rot. Original: Linduarte Noronha. Fotografia e Montagem: Rucker Vieira. Esse curta, considerado como outros, enquanto precursor do Cinema Novo, apresenta a realidade do quilombo Olho d’Água, na Paraíba,  onde remanescentes de escravos vivem, segundo sua narração, praticamente isolados e distantes de qualquer dimensão institucional do Estado brasileiro. Quando comparado a produções contemporâneas, tais como  Um Dia na Rampa , de Luiz Paulino dos Santos, o filme parece soar bem mais datado, na sua leitura explicitamente sociologizante, representada sobretudo pela gravidade e autoridade que remetem sua voz “over”, assim como sua música (em boa parte de sua metragem se escuta músicas folclóricas, tais como a célebre  Oh Mana Deixa eu Ir ) parecendo cumprir mais como um elemento de reforço dramático da realidade social abordada que propriamente como um elemento expressivo fundamental, tal como no curta de Luiz Paulino. Aqui, parte-se de uma situação de

PIMBALL WIZARD ( The Who - Feat - Elton John - from - TOMMY The movie 19...

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Filme do Dia: Pérfida (1941), William Wyler

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Pérfida ( The Little Foxes , EUA, 1941). Direção: William Wyler. Rot. Adaptado: Alan Campbell, Lillian Hellman, Arthur Kober & Dorothy Parker, baseado na peça de Hellman. Fotografia: Gregg Toland. Montagem: Daniel Mandell. Dir. de arte: Stephen Goosson. Cenografia: Howard Bristol. Figurinos: Orry-Kelly. Com: Bette Davis, Herbert Marshall , Teresa Wright, Richard Carlson, Dan Duryea, Patricia Collinge, Charles Dingle, Carl Benton Heid, Russell Hicks.             A pérfida Regina Hubbard (Davis) casou com o benevolente e amado Horace Giddens (Marshall) por interesse. Doente terminal, Horace tornou-se peça-chave das ambições de Regina e seus irmãos, Ben (Dingle) e Oscar Hubbard (Reid), que querem dele um empréstimo que os tornará ricos, associando-se ao poderoso William Marshall (Hicks). Porém, Horace percebe tudo e decide não cooperar. Do seu lado encontra-se a filha única do casal, Alexandra (Wright), que prefere o amor do humilde, porém honesto David Hewitt (Carlson) ao primo

Rosa Passos- E Luxo So

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Filme do Dia: A Farsa Trágica (1942), Alessandro Blasetti

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A Farsa Trágica ( La Cena delle Beffe , Itália, 1942). Direção: Alessandro Blasetti. Rot. Adaptado: Alessandro Blasetti & Renato Castellani, baseado na peça de Sem Benelli. Fotografia: Mario Craveri. Música: Guiseppe Becce. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte: Virgilio Marchi & Ferdinand Ruffo. Cenografia: Principe Ruffo.  Figurinos: Gino Sensani. Com: Amedeo Nazzari, Osvaldo Valenti, Clara Calamai, Alfredo Varelli, Valentina Cortese, Memo Benassi, Elisa Cegani, Luisa Ferida. Lorenzo de Médici (Benassi) convida para um jantar os irmãos Neri (Nazzari) e Gabriello (Varelli) com o intuito de fazerem as pazes com o rival Gianetto (Valenti). Para vingar-se de uma brincadeira anterior dos irmãos que o acabou levando a ser jogado no rio, Gianetto nessa noite estimula que Neri se vista como cavaleiro e vá procurar confusão em um bairro mal afamado de Florença. Após boatos devidamente plantados por um criado de Gianetto, Neri é preso como louco em um campanário, enquanto Gian