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Filme do Dia: A Morte de um Burocrata (1966), Tomás Gutierrez Aléa

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A Morte de um Burocrata ( La Muerte de un Burocrata , Cuba, 1966). Direção: Tomás Gutierrez Aléa. Rot. Original: Alfredo L. Del Cueto & Ramón F. Suárez, sob argumento de Aléa. Fotografia: Ramón F. Suárez. Música: Leo Brouwer. Montagem: Mario González. Dir. de arte: Luiz Márquez. Figurinos: Elba Pérez. Com: Salvador Wood, Silvia Planas, Manuel Estanillo, Omar Alfonso, Elsa Montero, Gaspar De Santelices, Richard Suarez, Luis Romay. Após o enterro do tio, sobrinho (Wood) procura exumar o corpo, pois com ele se encontra a carteira de trabalho, objeto indispensável para dar entrada a pensão da viúva (Planas). Após uma série de fracassos junto aos órgãos competentes, o próprio sobrinho resolve exumar o caixão, com ajuda de alguns coveiros, e consegue a carteira de trabalho. O problema agora consiste em conseguir voltar a enterrar o mesmo. Essa precoce sátira ao crescente caráter estatista e burocratizante que se transformou rapidamente a revolução cubana é, amparada por d

The Film Handbook#130: Satyajit Ray

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Satyajit Ray Nascimento: 02/05/1921, Calcutá, Índia Morte : 23/04/1992 Carreira  (como diretor): 1951-1991 Q uase sozinho, Satyajit Ray , levou que o cinema indiano chamasse a atenção do Ocidente. Ao adotar um estilo realista, quase literário, demasiado distante das exóticas fantasias musicais que tem sido a dieta básica das plateias indianas, ele estabeleceu a si próprio como a liderança no cinema de Bengali e enquanto artista de grande estatura internacional, sua habilidade para tocar as emoções humanas complexas tem sido rivalizada por poucos. Nascido em uma proeminente família de artistas em Bengali, Ray trabalhou como ilustrador comercial depois de estudar economia e pintura. Ao mesmo tempo, no entanto, desenvolveu um forte interesse pelo cinema e, apos uma visita a Londres, durante a qual ia frequentemente ao cinema, começou a filmar A Canção da Estrada / Pather Panchali , o primeiro do que viria a se tornar a Trilogia de Apu > 1 . O filme, realizado ao longo de quat

Filme do Dia: Lu tempu di lu Pisci Spata (1955), Vittorio De Seta

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L u Tempo di li Pisci Spata (Itália, 1955). Direção, Rot. Original, Fotografia e Montagem: Vittorio De Seta. Como nos outros curtas que realizará no período, esse sendo o primeiro, De Seta faz uso de recursos estilísticos similares, abdicando da voz over que impregna o documentário clássico e buscando um estilo mais próximo do observacional com maior ou menor grau de encenação – evidentemente sem atores profissionais e realizada no local de moradia e ação dos mesmos – para a câmera. Os primeiros letreiros já anunciam que todos os sons registrados o foram no local e em seu ambiente verídico de realização. Os enquadramentos – como   o que flagra apenas a cabeça e chapéu de um homem a observar um barco a determinada distância, com a imensidão azul das águas do Estreito de Messina, a separar não apenas o objeto de olhar de quem o observa, duplicando o olhar do espectador, mas igualmente a Calábria da Sicília – são deslumbrantes e grandemente criativos. Os cantos de pesca já se anunc

Filme do Dia: O Homem do Braço de Ouro (1955), Otto Preminger

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O Homem do Braço de Ouro ( The Man with the Golden Arm , EUA, 1955). Direção: Otto Preminger. Walter Newman & Lewis Meltzer, baseado no romance de Nelson Algren. Fotografia: Sam Leavitt. Música: Elmer Bernstein.  Montagem: Louis R. Roeffler. Dir. de arte: Joseph C. Wright. Cenografia: Darell Silvera. Figurinos: Mary Ann Nyberg. Com: Frank Sinatra, Eleonor Parker, Kim Novak, Arnold Stang, Darren McGavin, Robert Strauss, John Conte, Doro Merande. Após sair da prisão, o viciado em heroína Frankie Machine (Sinatra) é tentado pela sordidez e falta de dinheiro a voltar a procurar o traficante Louie (McGavin), sendo pressionado inclusive por sua mulher Zosch (Parker), paralítica desde um acidente de carro no qual Frankie dirigia. Embora tente por em prática o que aprendeu na prisão como baterista, a única pessoa que acredita nele é Molly (Novak). Por necessidade, volta a ser crupiê nos jogos ilegais  por Schwiefka (Strauss). Zosch, na verdade, finge ser paralítica e quando Louie d

Filme do Dia: Lola (1961), Jacques Demy

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L ola (França/Itália, 1961). Direção e Rot. Original: Jacques Demy. Fotografia: Raoul Coutard. Música: Michel Legran. Montagem: Anne-Marie Cotret & Monique Teisseire. Dir. de arte e Figurinos: Bernard Evein. Com: Anouk Aimée, Mark Michel, Jacques Harden, Alan Scott, Elina Labourdette, Annie Duperoux, Catherine Lutz, Corinne Marchand.           Em Nantes, Roland Cassard (Michel) é um jovem sem ilusões que tem sua vida transformada ao reconhecer um velho amor de infância, Lola (Aimée), dançarina que vive um caso de amor com o marinheiro americano Frankie (Scott), apenas por que ele lhe lembra o grande amor de sua vida, Michel (Harden), que partiu há sete anos. Roland desperta a paixão na dona de casa solitária, Madame Desnoyers (Labourdette), que tem uma filha adolescente, Cécile, que se apaixona pela primeira vez na vida pelo marinheiro Frankie. Lola afirma para Cassard que não o ama e esse, que já se encontrava quase disposto a desistir de viajar para a África do Sul em uma pe

Filme do Dia: O Amor Que Não Morreu (1949), Raffaello Matarazzo

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O Amor Que não Morreu ( Catene , Itália, 1949). Direção: Raffaello Matarazzo. Rot. Original: Aldo De Benedetti & Nicola Manzoni, a partir do argumento de Libero Bovio & Gaspare Di Maio. Fotografia: Carlo Montuori. Música: Gino Campase. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte: Ottavio Scotti. Cenografia: Gino Brosio. Com: Yvonne Sanson, Amedeo Nazzari, Aldo Nicodemi, Teresa Franchini, Aldo Silvani, Gianfranco Magalotti, Rosalia Randazzo, Roberto Murolo. Nápoles. Rosa (Sanson) vive uma vida tranquila com o marido mecânico Guglielmo (Nazzari) e os filhos Tonino (Magalotti) e Angela (Randazzo), assim como a mãe dele, Anna (Franchini) até o dia em que uma dupla de criminosos vai buscar consertar o carro na oficina de Guglielmo. Um dos homens fora noivo de Rosa, Emilio (Nicodemi). Todos os comparsas do grupo são presos menos Emilio e Rosa não o delata. Ele, no entanto, passa a persegui-la e chantagea-la, dizendo-se ainda fortemente apaixonado por ela.   Tonino percebe, num

Filme do Dia: Sobre Susan Sontag (2014), Nancy D.Kates

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S obre Susan Sontag ( Regarding Susan Sontag , EUA, 2014). Direção: Nancy D. Kates. Rot. Original: Nancy D. Kates & John Haptas. Fotografia: Sophia E. Constantinou. Montagem: John Haptas. Documentário que, dentro dos limites de um produto produzido para a televisão, pretende fazer uma espécie de história intimista sobre uma das mais charmosas personalidades do mundo intelectual norte-americano da segunda metade do século XX. Sontag surge em entrevistas de arquivo, em depoimentos de pessoas próximas, amigos & amantes, assim como seu filho. Sua curiosidade “promíscua” por querer tudo conhecer, seus três cânceres, o último deles fatal, sua preocupação com o excesso de imagens e a tendência a banalização de tudo o que apresentam,  suas visitas a regiões de guerra (no Vietnã, recebendo flores do governo comunista), sua dolorosa separação do primeiro marido após a estadia na França, o alívio de deixar de usar o seu nome de nascimento, Rosenblatt, explicitamente judeu, substit

Filme do Dia: Edifício Master (2002). Eduardo Coutinho

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E difício Master (Brasil, 2002). Direção: Eduardo Coutinho. fotografia: Jacques Cheuiche. montagem: Jordana Berg. No condomínio-titulo, situado em Copacabana,  o documentário apresenta uma rica e variada diversidade de tipos humanos que falam sobre aspectos de suas vidas, assim como descrevem como é viver no bairro. Procurando centralizar todas as atrações para as narrativas dos moradores, o cineasta tenta afastar-se de qualquer outro elemento, seja a trilha sonora ou efeitos rebuscados de montagem. O resultado, entre cômico e trágico, catártico ou calculado, sempre é marcado pelo humano e universal que está reproduzido nas falas mais diversas. De uma senhora que relembra a época “barra pesada” do prédio ao porteiro, que sonha constantemente com o pai adotivo que acredita ser seu verdadeiro pai, da sociofobica que não consegue encarar a câmera ao aposentado que delira emocionado ao som de My Way , do ex-tecnico de futebol que caiu no ostracismo ao tirar a roupa em protesto à

Filme do Dia: O Maldito (1951), Joseph Losey

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O Maldito ( M , EUA , 1951). Direção: Joseph Losey. Rot. Adaptado: Leo Katcher, Norman Reilly Raine & Waldo Salt, a partir do roteiro original de Fritz Lang & Thea Von Harbou. Fotografia: Ernest Lazslo. Música: Michel Michelet. Montagem: Edward Mann. Dir. de arte: Martin Obzina. Cenografia: Edward R. Robinson. Com: David Wayne, Howard Da Silva, Martin Gabel, Luther Adler, Steve Brodie, Raymond Burr, Glenn Anders, Norman Lloyd. Martin (Wayne), assassino serial de meninas, desperta pânico numa cidade. A polícia se sente cada dia mais pressionada em encontrar o autor dos bárbaros crimes, sendo a investigação coordenada pelo Comissário Carney (Da Silva). Ao mesmo tempo, o líder do mundo criminal, Charlie Marshall (Gabel) se sente na obrigação de capturar o assassino, pois as constantes batidas policiais em áreas onde ocorrem muitas das operações ilegais de Marshall, atrapalham seu lucro. Marshall então arregimenta toda a extensa e variada rede de contatos que vai de motor

The Film Handbook#129: Orson Welles

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Orson Welles Nascimento: 06/05/1916, Kenosha, Wisconsin, EUA Morte: 10/10/1985, Hollywood, Califórnia, EUA Carreira : 1934-1985 É  quase tragicamente irônico que George Orson Welles, sem dúvida um dos mais realizadores de todos os tempos, tenha sido forçado a trabalhar a maior parte de sua carreira sobre as mais adversas condições. Tal era seu gênio e ambição que seus filmes, anos adiante de seu tempo, ainda surpreendem por sua inventividade, virtuosidade estilística e frescor; embora a visão amplamente tida que nunca teria cumprido sua promessa inicial não leve em conta a consistência temática e moral de sua obra, para não dizer de sua incansável experimentalismo. Ex-criança prodígio que atuava, pintava e fazia mágicas, Welles ganhou proeminência primeiro no teatro, tendo revelado sua habilidade em interpretar personagens de idade bem mais avançada enquanto ator adolescente no Dublin Gate Theatre. Provou a si mesmo ser um diretor inovador e com várias produções ambiciosas em

Filme do Dia: Um Filme para Nick (1980), Wim Wenders & Nicholas Ray

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Um Filme para Nick ( Lightning Over Water/Nick’s Film , Suécia/Al.Ocidental, 1980). Direção e Rot. Original: Wim Wenders & Nicholas Ray . Fotografia: Edward Lachman & Martin Schafer. Música: Ronee Blakley. Montagem: Peter Pryzgodda & Wim Wenders. Enquanto filmava Hammett , Wenders viaja para Nova York para conversar com Nicholas Ray , que agoniza de um câncer no pulmão e sabe que não viverá muito. Ray discute uma proposta estapafúrdia de roteiro a ser filmada por Wenders – um pintor moribundo decide partir para a China onde encontrará a cura para o seu mal - inconcebível no estado de saúde ao qual se encontra. Nesse documentário abertamente encenado – a determinado momento, Wenders dirige Ray diante da câmera, a noção entre encenação e realidade é a todo momento posta em jogo, ao ponto de se perceber que tudo é encenação, inclusive as ações sociais. Um dos primeiros filmes de um realizador mais conhecido a mesclar abertamente imagens em vídeo com material filmado

Filme do Dia: Paterson (2016), Jim Jarmusch

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P aterson (EUA, 2016). Direção e Rot.Original: Jim Jarmusch. Fotografia: Frederick Elmes. Música: Jim Jarmusch, Carter Logan & Sqürl. Montagem: Affonso Gonçalves. Dir. de arte: Mark Friedberg. Cenografia: Lydia Marks. Figurinos: Catherine George. Com: Adam Driver, Golshifthe Farahani, Rizwan Manji, Barry Shabaka Henley, William Jackson Harper, Chasten Harmon, Kara Hayward, Jared Gilman, Sterling Jerins, Johnnie Mae, Sophia Muller, Masatoshi Nagase, Nellie. Paterson (Driver) é um motorista de ônibus, amante de poesia e que descarta a necessidade de um smart phone, mesmo quando ocorre uma pane no veículo que dirige. Ele vive com Laura (Farahani) e o cão Marvin (Nellie). Paterson vive na cidade de mesmo nome no estado da Nova Jersey e aproveita as horas vagas para escrever seus poemas. Laura possui várias manias como pintar, aprender a tocar guitarra – ela sonha com a possibilidade de vir a ser uma futura Tammy Wynette – ou ganhar muito dinheiro com cupcakes . Certo dia Mar

Filme do Dia: Povoado Number One (2006), Rabah Ameur-Zaïmeche

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P ovoado Number One ( Bled Number One , Argélia/França, 2006). Direção: R abah Ameur- Zaïmeche. Rot.Original: Rabah Ameur- Zaïmeche & Louise Thermes. Fotografia: Lionel Sautier, Hakim Si Ahmed & Olivier Smitarello. Música: Rudolph Burger. Montagem: Nicolas Bancilhon. Figurinos: Sabrina Chenti. Com: Meryen Serbah, Abel Jafri, Rabah Ameur-Zaïmeche, Meriem Ameur-Zaïmeche, Larkden Ameur-Zaïmeche, Soher Ameur-Zaïmeche, Farida Ouchani, Ramzi Bedia. Kamel (Rabah Ameur-Zaïmeche) é um jovem que retorna para a Argélia após uma temporada na França. Enquanto isso, Louisa (Serbah) é espancada e desprezada pelo marido, e tem seu filho pequeno furtado de seu convívio, por querer seguir uma carreira como cantora. No mesmo dia que é expulsa do carro pelo marido, apanha também do irmão Bouzid (Jafri). Indignado com o que aconteceu Kamel, que se encontra interessado em Louisa, quase chega as vias de fato com Bouzid. Visualmente mais próximo do documentário que da ficção, relação que f

Filme do Dia: A Cor da Romã (1969), Sergei Paradjanov

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A Cor da Romã ( Sayat Nova , URSS, 1969). Direção; Sergei Paradjanov. Rot. Original: Serguei Paradjanov, baseado nos poemas de Sayat Nova. Fotografia: A.Samvelyan, Martyn Shakhbazyan & Suren Shakhbazyan. Música: Tigran Mansuryan. Montagem: Serguei Paradjanov. Dir. de arte: Stepan Andranikyan. Com: Melkop Aleksanyan, Vilen Galstyan, Giorgi Gegechkori, Onik Minasyan, Sofiko Chiaureli. Paradjanov mostra-nos algo sobre o universo do poeta armênio Sayat  Nova menos  pela narrativa de sua vida em si do que por algumas das mais perturbadoramente belas imagens já produzidas pelo cinema. Tal como tableaux vivos, os planos do filme mesclam engenhosamente ângulos, movimentação dos atores, cores e canções tradicionais, tornando desnecessários os diálogos e sendo raramente surpreendidos por algum monólogo. Narrado sob a forma de pequenos sketches a partir dos textos do poeta – que é apresentado desde a sua infância, juventude e maturidade até os últimos dias (quase sempre como hom