The Film Handbook#144: Vincente Minnelli

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Vincente Minnelli
Nascimento: 28/02/1913, Chicago, Illinois, EUA
Morte: 21/07/1986, Los Angeles, Califórnia, EUA
Carreira (como diretor): 1942-1976

Mais conhecido por seus musicais para a MGM (que constituem menos de um terço de sua produção) Vincente Minnelli também trabalhou com sucesso variado na comédia e no melodrama. Um estilista extravagante, cujo interesse nos sonhos e no imaginário levam-no a muitas sequencias de fantasias surpreendentes e, no seus piores momentos, sendo meramente um ilustrador decorativo e kitsch; porém, em seu melhor, forma e conteúdo são combinados para produzir um cinema de grande poder dinâmico e originalidade.

Ator infantil que cresceu para se tornar um bem sucedido cenógrafo e figurinista, assim como diretor, nos palcos da Broadway, Minnelli foi convidado por Hollywood, em 1940, pelo inovador chefe da unidade de musicais da MGM, Arthur Freed. Em 1943, tendo filmado cenas isoladas para diversos musicais, dirigiria sua estreia em longa-metragem, Uma Cabana no Céu/Cabin in the Sky, engenhosa fantasia musical com elenco completamente negro, em grande parte ambientada no Céu. Agora Seremos Felizes/Meet Me in St.Louis>1, evidenciava sua crescente segurança, integrando as canções com seu enredo nostálgico (sobre as alegrias e pesares de uma família na virada do século) com facilidade dramática e revelando uma habilidade para evocar o estado de espírito através das cores, figurinos e cenários que lhe serviria posteriormente em seus musicais crescentemente ambiciosos: o extravagantemente onírico Yolanda e o Ladrão/Yolanda and the Thief, o hilariante e espalhafatoso O Pirata/The Pirate, Sinfonia de Paris/An American in Paris>3 (memorável por um balé final inspirado por pinturas impressionistas) e A Roda da Fortuna/The Band Wagon um retorno ocasional ao formato  do musical de bastidores parodiando, com a figura do diretor Jack Buchanan, resolvido a encenar uma adaptação com dança e canto de uma versão do Fausto de Goethe, as próprias tendências de Minnelli para extrair encanto da afetação artística.

Entre os musicais, Minnelli regularmente retornaria ao melodrama com sucesso variado. O Ponteiro da Saudade/The Clock foi uma tocante, ainda que artificiosa, comédia romântica, estrelada, como vários de seus filmes, pela então esposa de Minnelli, Judy Garland; Correntes Ocultas/Undercurrent, um banal filme de ação; Madame Bovary uma extravagante adaptação literária; e O Papai da Noiva/Father of the Bride>2, uma comédia soberbamente interpretada, seu núcleo sombrio (as ansiedades de um pai sobre perder sua filha para outro homem) momentaneamente expostas em uma sequencia de pesadelo belamente criativa. Porém foi o melodrama que provou ser o de maior valor nos anos 50, quando seus musicais se tornaram limitadamente fantásticos (A Lenda dos Beijos Perdidos/Brigadoon) ou redundantemente ornamentais (Um Estranho no Paraíso/Kismet, Gigi). O sardonicamente cômico Assim Estava Escrito/The Bad and the Beautiful>4 fazia uso de um estilo de estrutura em flashback para analisar uma combinação de talento e ambição de explorar requerida para o sucesso de um produtor hollywoodiano; Paixões Sem Freios/The Cobweb fazia uso de um envolvente conceito dramático (um obstinado argumento sobre as cortinas de um hospital psiquiátrico) para expor as neuroses de sua equipe mais que dos seus pacientes; Sede de Viver/Lust for Life>5 foi uma biografia de Van Gogh poderosamente emocional, filmada parcialmente em locações europeias, incomumente respeitosa com a obra do pintor e perceptivelmente consciente das sombrias tendências subjacentes que tornaram sua arte possível.

De fato, Minnelli parecia mais confortável no registro histérico que com material mais convencional, tal como Chá e Simpatia/Tea and Simpathy, que ele frequentemente tratava com insensível indiferença. Cores expressionistas, fluidos movimentos de câmera e excessos emocionais se aproximando do absurdo tornam seus melhores melodramas tão compulsivos e comoventos quanto seus primeiros musicais: em Deus Sabe Quanto Amei/Some Came Running>6, uma sátira cáustica sobre a tacanha hipocrisia da América provinciana mescla-se com cenas que se alternam entre a introspecção lírica e o delírio onírico, refletindo a sensibilidade esquizofrênica de um escritor que se transformou em um jogador alcóolatra; A Casa da Colina/Home from the Hill é uma descrição de grande intensidade da influência maligna da tirania patriarcal; A Cidade dos Desiludidos/Two Weeks in Another Town>7 é praticamente uma virtual sequencia de Assim Estava Escrito, com um pretendente a ator e um diretor de cinema megalomaníaco se engajando em uma ácida batalha privada contra um cenário gloriosamente orgíaco de celebridades decadentes, cujas vidas giram ao redor dos estúdios Cinecittà, em Roma.

Após uma charmosa comédia doméstica, Papai Precisa Casar/The Couirtship of Eddie's Father, Minnelli finalmente abandonou a MGM e se tornou errático. Um Amor do Outro Mundo/Goodbye Charlie foi uma farsa sem brilho; Adeus às Ilusões/The Sandpiper, uma novela pomposa, Num Dia Claro de Verão/On a Clear Day You Can See Forever, um irregular e temporão retorno ao musical, e Questão de Tempo/A Matter of Time, um veículo indulgente e sentimental para a filha de Minnelli, Liza. Esses filmes foram um triste posfácio para uma carreira notável, mesmo errática, de um homem que, em seu auge, demonstrara que o escapismo  não precisa ser nem acéfalo nem cauteloso, e que o amor profundo pelas cores, música e movimento produzem diversão inteligente.

Cronologia
Influenciado por Freed, o estilo de Minnelli pode também ser comparado ao de Mamoulian. Seus melodramas aos de Sirk, seus musicais provavelmente influenciaram Donen, Gene Kelly e Demy, para não mencionar figuras menores como Charles Vidor, Charles Walters e Walter Lang. Godard prestou sua homenagem a Assim Estava Escrito em O Desprezo/Le Mépris, enquanto a escalação de Liza Minnelli em New York, New York, de Scorsese, também pode ser vista como um respeitoso tributo.

Leituras Futuras
I Remember It Well (Nova York, 1974) é a autobiografia de Minnelli.

Destaques
1. Agora Seremos Felizes, EUA, 1944 c/Judy Garland, Margaret O'Brien, Mary Astor, Leon Ames

2. O Papai da Noiva, EUA, 1950 c/Spencer Tracy, Joan Bennett, Elizabeth Taylor

3. Sinfonia de Paris, EUA, 1951, c/Gene Kelly, Leslie Caron, Oscar Levant, Nina Foch

4. Assim Estava Escrito, EUA, 1952, Kirk Douglas, Lana Turner, Dick Powell, Gloria Grahame

5. Sede de Viver, EUA, 1956 c/Kirk Douglas, Anthony Quinn, James Donald

6. Deus Sabe Quanto Amei, EUA, 1958 c/Frank Sinatra, Shirley MacLaine, Dean Martin

7. A Cidade dos Desiludidos, EUA, 1962 c/Kirk Douglas, Edward G. Robinson, Cyd Charisse

Fonte: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 198-9.


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